O que eu não gosto
Esqueçam aquilo que escrevi
São Paulo, 7 de setembro de 2010    
Por Celso Luis Rodrigues Vegro (*)

Howard Schultz é um dos magnatas estadunidenses mais invejados no globo. A ascensão exponencial da rede de cafeterias Starbucks, inclusive no Brasil, tornou-se um caso para estudos sobre estratégia empresarial em todas as universidades de economia do mundo. Não há periódico sobre a face da terra que em algum momento não tenha soltado uma matéria sobre a Starbucks e seu fundador.
Mas não foi apenas no mundo dos negócios envolvendo o café que o empresário teve seu nome levado às alturas. Como escritor conseguiu emplacar seu livro dentre os best-sellers da linha de gestão de negócios e empreendedorismo. De fato, “Dedique-se de coração”, traduzido em dezenas de línguas bateu recordes de vendas e tem sido ainda hoje uma referência para quem quer começar um negócio.
O livro trata da epopéia que foi construir a Starbucks sempre vinculada com o espírito animal de um empresário verdadeiramente inovador. Sua capacidade de gerir o negócio foi mais uma vez demonstrada quando a partir do colapso econômico de 2008 se viu obrigado a retornar às atividades dentro da companhia da qual havia se afastado após mais de 17 anos sob sua liderança. Com as mudanças implementadas, a Starbucks que estava em rota de declínio, retomou trajetória de expansão, revitalizando toda a sua linha de negócios.
Bom seria se tudo neste mundo fossem lindas flores. No livro, a certa altura, ao comentar a produção e as qualidades do café nos diversos países produtores, Schultz sentencia que a origem brasileira jamais entraria na composição dos blends de seu café! Pois chegou o momento do seu arrependimento.
Em 2009, estimativas efetuadas por exportadoras e cooperativas, contabilizam que a Starbucks adquiriu no mercado brasileiro, algo com 350 mil sacas, majoritariamente, de café tipo cereja descascado para compor os seus cafés. As compras podem alcançar até 1 milhão de sacas este ano. Para quem havia decidido que o café brasileiro não servia para o padrão de excelência de sua companhia, a quantidade de sacas adquirida no Brasil demonstra uma revisão completa daquilo que o empresário imaginava sobre a cafeicultura brasileira e a falta de mérito de seus cafeicultores.
Talvez envergonhado do que escreveu, Schultz ainda não teve a coragem de informar aos seus clientes que eles estão apreciando em suas lojas o legítimo café brasileiro de alta qualidade. Em 2010 o volume de compras mais que dobrará. Será que virá junto a coragem e a responsabilidade com seus clientes de informar que o CAFÉ É BRASILEIRO. Tenho dúvidas, pois o que comanda o mundo dos negócios e da política é a sentença: esqueçam o que escrevi e vamos ganhar dinheiro! Depois dessa história tem ainda alguém que duvide que nesse mundo o que anda a escassear é a ética?

(*) Celso Luis Rodrigues Vegro é engenheiro agrônomo, MS em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade e pesquisador científico do Instituto de Economia Agrícola/Apta/SAA

Muito pessoal

Antônio Reche

Essa, talvez, seja a seção mais pessoal desse site pessoal. Todos os artigos publicados aqui foram assinados por mim. Faço uma exceção para esse texto do Celso que reflete um pouco do que penso sobre o mundo que vivemos atualmente. Mundo de mentiras e mentirosos, mundo sem ética e respeito ao próximo, mundo de ignorantes que vangloriam-se da sua estupidez, mundo de merda e de merdas pululando por aí. Não era esse o mundo que eu imaginava, o jeito é pegar uma vassoura, ou o que seja, e começar a varrer essas bostas que temos pela frente. E aguardar que empresários festejados, como o sr. Schultz, parem de mentir. Já será um começo.
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