O que eu gosto
Gostaria de estar nessa fila
São Paulo, 27 de abril de 2010    
Dizem os maldosos que quem gosta de fila é velhinho aposentado. É uma maldade e tanto. Fila é a coisa mais chata do mundo, é até mais chato que discurso da Dilma Roussef. E de qualquer candidato a qualquer coisa. Confesso, tem uma fila que eu gostaria de estar. Primeiro porque você não precisará ficar de pé tomando sol e chuva, nem acordar de madrugada, segundo por que é uma fila muito fina. Acabam de lançar a Ferrari 458 Italia, sem acento mesmo. A vermelhinha, quando chegar por aqui, custará entre R$ 1,5 e R$ 1,6 milhão. E já existem oito brasileiros na fila. Segundo reportagem publicada no jornal “O Estado de S. Paulo”, no último dia 21 de abril de 2010, são seis paulistanos, um mineiro e um catarinense. O referido jornalão já está quase há 300 dias sob censura, o que é uma lástima.
Não é o valor do carro que encanta-me, mas a performance dele é tentadora. Sentar-se em um carro, segurar o volante, enterrar o pé no acelerador e chegar a mais de 100 km por hora em menos de quatro segundos é um tesão. Incontestável. Se todo mundo, como regorgitam esses arautos “socialistas”, pudesse ter uma Ferrari, esse carro não valeria nada. O grande barato é que só quem pode gastar uns R$ 2 milhões vai curtir essa máquina monstruosamente perfeita e veloz. Essa é a diferença, isso é que faz-me ficar doido para ser o nono nessa fila da alegria. A realidade estapeia-me. Estou na fila de um Toyota Corola 2004/05 que deve valer entre 0,5% e 1,0% dessa máquina magnífica. Pobre de mim! Fila e tristeza, desespero, desânimo combinam muito bem. Já a fila da Ferrari 458 Italia é a fila da alegria, do prazer, da satisfação. Não há preconceito algum nesse texto. Tem pessoas, e com razão, que sorriem ao chegar a sua vez de receber um pratão com feijão e arroz, um naco de carne duro e esturricado por um real ou mesmo gratuito. Não é desse assunto que falo. Concluo que até na hora de pegar uma fila você precisa saber escolher. Qual é a fila que eu quero? Se puder escolher, quero a fila da Ferrari 458 Italia. Ou a fila para jantar no Parigi, ou a outra para embarcar na primeira classe para Paris, Londres ou New York. Cada um escolhe a fila que pode ou deseja. Sei muito bem as filas que quero. Já peguei a fila noturna na Triagem do Hospital São Paulo, ali na Vila Mariana, para cuidar de uma senhora desamparada. Foi a madrugada mais horrível da minha vida. Já enfrentei outras filas amaldiçoadas. O que mudou? Nada. Só que agora eu sei as filas que gostaria de enfrentar. Simples assim.
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