O que eu não gosto
Braços curtos
São Paulo, 20 de março de 2010    
Impressiona-me o que alguns jornalistas que conheço são capazes de fazer para não trabalhar. O Dicionário Houaiss define a palavra trabalho no primeiro sentido como: “esforço incomum; luta, lida, faina”, e no segundo como: “conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim”. Claro, o professor Houaiss apresenta exatos 28 sentidos para essa palavra. E quando refiro-me a jornalistas que fazem de tudo para evitar o trabalho, nomeio os dessa profissão pois são os que estão mais próximos de mim. É claro que falo do homem de uma maneira geral. Imagino que existam pessoas com esse tipo de comportamento em todas as profissões. “Esse aí tem bracinho curto”, afirma jocosamente a minha irmã, referindo-se aos alérgicos ao trabalho. Volto a recorrer ao dicionário: “que ou quem leva a vida no ócio; indolente, vadio”, é a segunda definição do professor Houaiss para a palavra vagabundo. Produto em que a oferta é infinitamente superior a demanda na área de comunicação, a que estou há muitos anos, é a de jornalistas vagabundos. Alguns deles, mesmo quando parecem estar trabalhando, são perfeitos inúteis e incompetentes. O resultado dessa indolência é fácil de comprovar. Na espetacular internet há muitas e boas informações e também muitos sites, blogs e o diabo, onde não se apresenta nada de novo. Os vagabundos simplesmente fazem duas operações, Ctrl+c e Ctrl+v, isto é, copiam o trabalho dos outros e colam nos seus sites. Nas revistas, jornais, televisões e rádios a coisa não é muito diferente. Chega a ser notável o número de erros encontrados em algumas publicações escritas, frases sem pé nem cabeça etc. Nas rádios e tevês há um show do que o incomparável Nelson Rodrigues chamaria de “o óbvio ululante”, a mesmice, as apelações ordinárias, enfim, pobreza de espírito como a de grande parte da população brasileira: ignorante, analfabeta e inescrupulosa. Isso resulta da enorme preguiça e vagabundagem de muitos jornalistas. Têm preguiça de apurar as notícias e preferem reler o que já está publicado nas agências on line, de buscar entrevistados novos, ou nunca lhe aconteceu de ver o mesmo entrevistado em três ou quatro canais de tevês no mesmo dia em horários diferentes? Isso é fruto da vadiagem. Não se iluda, a última prioridade de muitos jornalistas é você, o ouvinte, o leitor, o telespectador e o internauta. Lamento informá-los disso. Alguns deles fazem tantos malabarismos para não trabalhar, que se trabalhassem creio que o desgaste seria menor. Por último, porém não menos importante, trabalhar requer um esforço incomum, como definiu precisamente o professor Houaiss, não é tão fácil quanto empurrar um bêbado ladeira abaixo, e não tenho absolutamente nada contra a prática do ócio, apenas não faço dele a minha profissão. Creio que voltarei a este tema em outra oportunidade.
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