O que eu gosto
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São Paulo, 2 de outubro de 2009    
Aeroporto é um bom lugar para comprar livros. A espera é tão grande que dá para ler vários capítulos. Estou numa segunda-feira no temível aeroporto de Congonhas, SP, esperando o meu vôo para Goiânia. Um bom local para passar o tempo é a livraria (já foi banca de jornais) La Selva. É para lá que vou com a Naira, executiva de negócios da revista DBO, que viajaria no mesmo treco voante que eu. Queria comprar um livro do qual não me lembrava do nome, muito menos o nome do autor. O atendente queria ajudar mas sem o nome do livro e do autor ficou meio difícil. Fiquei ali meio sem graça entre aqueles muitos livros de auto-ajuda, nunca li nenhum deles, imaginem, não preciso dessas merdas. Sabia que tinha lido no Estadão que era o livro predileto do presidente dos Estados Unidos da América do Norte, sr. Barak Obama. Olhei para um lado, para o outro. Vi um senhor, pareceu-me o ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, pelo qual sentia uma repulsa desmesurada. Aproximei-me. “O senhor é o ex-secretário da Receita Federal, Everardo?” Ele sorriu e confirmou o que eu imaginara. Contei para ele o que procurava e perguntei se podia ajudar-me. Colocou a sua gorda mala no chão da livraria e depois de procurar por alguns segundos encontrou o caderno do jornal que continha o texto falando de tal livro, era a coluna do Daniel Piza, as vezes intragável, outras essencial. Lemos ali em pé o artigo e encontramos o nome do livro, Terras Baixas (em português), e o nome do autor. O atendente sorriu, dedilhou o teclado e disse que ainda não tinham recebido o livro. O ex-secretário disse-me que também ficou interessado no livro. Ficamos decepcionados. Agradeci a atenção dele. Não aguentei: “O senhor sabe o temor que temos de ser pegos pela receita, mesmo tentando fazer tudo direito e pagando os nossos impostos?” Ele deu um largo sorriso que até agora não sei como interpretar. Não desisti de comprar mais um livro. Encontrei um da espetacular P.D. James ( Phyllis Dorothy James, Baronesa James of Holland Park), The private patient ou Paciente Particular, que comprei e leio quase sem parar, mas como já escrevi, leio vários livros ao mesmo tempo, estou pela metade, mas é ainda mais surpreendente que Pecado Capital, outro dessa vovó inglesa magnífica. O Leão Everardo, essa é a questão, não tinha a juba que eu imaginava, não rugiu ensurdecedoramente, não usou suas presas afiadas para morder-me quando incomodei-lhe, enfim, a imagem do leão feroz desmanchou-se, mas surgiu outra mais simpática, o leão morde mas pelo menos é simpático, já é alguma coisa. Gosto de livros e de conhecer pessoas e parece que perdi totalmente a minha timidez de abordar quem quer que seja. Acho que avanço, sei lá, não sei nada, sinto-me muito bem entre os meus muitos livros, acho que isso é suficiente.
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