O que eu gosto
Gosto de casar
São Paulo, 14 de agosto de 2009    
Impagável, a inesquecível atriz Dercy Gonçalves, dizia, entre outras coisas, que gostava de noivar. Talvez, à época, noivar queria dizer que na relação homem/mulher, no que diz respeito às questões sexuais, quase tudo ou tudo era permitido. Sei lá, nasci depois disso. Ela também cunhou uma frase brilhante sobre as cirurgias plásticas. Dizia que faria quantas plásticas fossem possíveis. Vi-a uma vez em um programa de tevê dizendo que faria plásticas até o momento em que seu rosto sentisse vontade de sentar, ou seja, puxaria a pele até que a da sua bunda chegasse no rosto. Que figura! Gosto de casar, título desse artigo. Já casei, chamo de casamento o fato de morar junto com uma mulher mais de um ano, tenho que deixar as coisas claras. É bom. Lá vai. Fui casado com uma louca. Errei muito. Morávamos em Palo Alto, Califórnia, Estados Unidos da América do Norte. Isso em 1994. A relação estava uma merda. Fomos a um psiquiatra para a indefectível terapia de casal. Ele era mexicano. Stanford University é uma das melhores do mundo. A sessão começava com todos falando em inglês, educadamente, é claro. A sessão começava a esquentar e passávamos a falar em espanhol, que ele entendia, é lógico. Mas quando o pau começava a quebrar a língua entre eu e ela era o português. Lembro-me da cara espantada do terapeuta mexicano olhando para um lado e para o outro quando acusávamos-nos de várias coisas: “Caralho, você ferrou tudo... Quem botou areia na engrenagem foi você... Ah! Vá se catar...” Mesmo na pior desgraça e sofrimento sempre há alguma graça. Nunca vou me esquecer da cara do doutor mexicano tentando entender que pôrra estávamos gritando um para o outro. A sessão terminava com todos educamente falando em inglês. Tenho cada estória na minha memória... Não sei se isso pode interessar a alguém, mas é até divertido lembrar desses momentos trágicos e pobres da minha vida. Quem não tem do que se lamentar? Importante é não perder o bom humor. Eu até perco o meu, mas tento recuperar com a maior rapidez possível. Lembro-me de outra sessão terapêutica com um psiquiatra argentino completamente doido aqui em São Paulo. O mesmo casamento, a mesma louca, os mesmos problemas. Discutíamos acaloradamente quando apareceu na sala um camundongo. Ela subiu no sofá, odeio ratos, fiquei paralisado, e o terapeuta fingia que aquilo era a coisa mais natural do mundo. Hoje parece-me tudo muito divertido. No dia não foi muito. Nem sei quais os motivos que me fizeram escrever sobre esse assunto. Talvez apenas para esvaziar a minha memória deles. Que seja!
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