O que eu gosto
Um clássico é sempre um clássico
São Paulo, 24 de março de 2008    
Reli 25 anos depois o livro “A sangue frio”, de Truman Capote. Obra-prima é a expressão mais que correta para definir esse texto. Se você ler e compreender apenas o primeiro capítulo do livro já basta, ele tem 87 páginas nessa sexta-edição, a que acabo de reler. É um primor. Não é o caso de tentar analisar superficialmente o que gera a extrema violência entre alguns norte-americanos. Se você gosta de ler, leia esse livro e confira se estou exagerando. Parece-me pobreza espiritual definir a obra de Capote como um problema restrito aos Estados Unidos da América do Norte. Há alguns anos, aqui mesmo em São Paulo, acho que em uma das travessas da nossa gloriosa avenida Paulista, um jornalista foi abordado por um desses assaltantes de esquina. O garoto estava armado. O assaltado entregou tudo o que lhe foi pedido, relógio, dinheiro e sabe-se lá o que mais. O marginal guardou tudo e virou-se para deixar o local do crime. Sem motivo algum, voltou até a janela do carro e disparou sua arma na cabeça do jornalista. Preso, quando perguntado por quais motivos atirou em alguém que tinha feito tudo que ele pedira, respondeu: “Porque eu gosto”. Acho que foi algo mais ou menos parecido com isso que o brilhante Truman Capote ouviu do assassino Perry Smith e deixou-o desnorteado. A minha sugestão é a leitura de “A sangue frio”, o texto já é suficiente notável e não requer as minhas observações. Apenas um senão, o publisher, Luís (não sei se é grafado com “s” ou “z”) Schwarcz, da Companhia das Letras, poderia poupar os seus leitores das bobagens escritas no posfácio. O livro poderia ser mais sustentável, imaginem quantas árvores poderiam ser poupadas de serem transformadas em papel se aquelas cinco páginas de texto absolutamente inúteis fossem suprimidas do livro? Bem, ninguém é obrigado a ler posfácio, sugiro que não leiam. É como ter um jantar magnífico, beber o vinho perfeito, a sobremesa delicada e saborosa, a companhia não poderia ser mais agradável, e terminar tudo isso com um café vagabundo. O gosto que ficará é desse horrível café. Fiquem apenas com a apresentação de Ivan Lessa e com o texto de Capote. Já basta. Boa leitura!
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