Mercado
Chuvas e notícias negativas
São Paulo, 13 de setembro de 2015    
Por Rodrigo Corrêa da Costa (*)

O mercado financeiro aguarda ansiosamente a decisão sobre o aumento dos juros dos Estados Unidos no próximo dia 17 de setembro para reorganizar as carteiras de investimentos.
Notícias dos mercados emergentes e indicadores econômicos mistos da principal economia do planeta ajudaram os índices de bolsa europeus e americanos a ficar praticamente de lado desde o meu último comentário (há duas semanas).
Confusão mesmo veio do Brasil com a presidente mandando um orçamento para aprovação no congresso com um déficit de 30 bilhões, mostrando não estar preocupada com as contas do país e desencadeando o rebaixamento da nota da dívida para o grau especulativo pela agência de risco Standard & Poor’s. Com o perdão do trocadilho, pobre população que sofrerá ainda mais com a atual administração, que muitos veem como esperança a não-conclusão do mandato.
A moeda brasileira neste cenário bateu R$ 3.9061 contra o dólar-americano ajudando a empurrar o café para novas mínimas, com contribuições do clima e de fatores técnicos.
O arábica em Nova Iorque fechou no pior patamar, em dólares, desde janeiro de 2014, a US$ 116.55 (considerando o segundo mês de futuros). Londres está pior, caiu para os níveis de novembro de 2013. Em minha opinião as chuvas abundantes nas regiões produtoras no Brasil desencorajaram compras no terminal, trouxeram algumas vendas de origens e com a fraqueza do Real atraíram especuladores para vender – mais ainda depois da quebra da mínima anterior.
Por outro lado, os preços em reais por libra-peso se mantêm em saudáveis R$ 452.00 centavos, distante dos R$ 561.00 centavos de outubro de 2014, mas acima da média de quatro anos de R$ 367.00 centavos – um argumento indisputável dos baixistas.
As perguntas que cabem são: 1) Há café suficiente para os produtores brasileiros pressionar as cotações no curto-prazo?; 2) A safra 16/17 começará a ser vendida exatamente quando (em volume)?; 3) Onde vai parar o Real?
Aos que assumem uma safra atual menor do que a do ano passado a resposta à primeira pergunta é um sonoro “não”. Mas, mesmo para os que acham ser maior, eventualmente a atual sensação de descontrole da economia e o risco de pressão inflacionária maior (que pode não perdurar dado o quadro recessivo mais agudo), pode fazer os produtores segurar o café para se proteger. Quanto a safra 16/17 muitos devem esperar a firmação da florada/a continuação das chuvas pelo período necessário para então buscarem compradores interessados em garantir o fornecimento de café lá na frente.
Falar do Real é mais complicado, pois a Dilma pode sempre tirar outro coelho da cartola que assuste a todos. Entretanto com os títulos brasileiros já negociando a níveis piores de economias bem mais complicadas, o dólar já ter valorizado muito e o cenário político parecendo impossível de piorar ainda mais, tudo indica que no curto-prazo o câmbio não deva passar os R$ 4.00. Bem, especulemos, se cair o Levy imediatamente o desespero tomará conta do ambiente, mas isto, imagino, deve ser a gota d’água para finalmente o processo de impeachment acelerar a saída da mandante.
Atendo-nos apenas ao café, as notícias baixistas em grande parte já estão descontadas, como a safra colombiana se repetindo, a vietnamita esperada como maior do que a atual e os estoques certificados elevados. Talvez ainda falte uma venda maior dos especuladores quando virem as fotos das floradas nas próximas semanas, mas fora isto as novidades podem ser altistas a partir de agora, como por exemplo uma renda mais baixa dos produtores de suaves em função das chuvas erráticas nos últimos meses por lá.
Os fundos já estão novamente com a maior posição vendida desde dezembro de 2013, e embora não pararão de vender enquanto os sinais gráficos não apontarem que estão errados, os volumes devem ser menores de agora em diante. Ao mesmo tempo a contínua compra dos comerciais, como mostrada no COT, e um intervalo de preços mais apertado da curta semana passada, podem ser fatores suficientes para uma cobertura de shorts no curto-prazo, que então testará a disposição de venda dos produtores da América Central, Colômbia e Brasil.
Só não podemos ter a queda do ministro da economia brasileira agora, ou o improvável aumento dos juros pelo FOMC em mais de 0.25% na reunião do comitê da semana que se inicia.
O primeiro nível de resistência é US$ 120.00 centavos, e o suporte está a 115.50 e 110.00.

(*) Rodrigo Corrêa da Costa escreve semanalmente esse comentário para a Archer Consulting. Republicado com a autorização do autor.
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