Mercado
Cenário macro pressiona mais o açúcar em NY
São Paulo, 25 de julho de 2015    
Por Arnaldo Luiz Corrêa (*)

O mercado de açúcar em NY caiu até 17 dólares por tonelada nos meses que refletem a safra 2015/2016 do Centro-Sul e pouco menos de 16 dólares por tonelada na safra seguinte. O cenário macro mundial, com o fortalecimento do dólar, derruba todas as commodities. Apenas no acumulado deste mês de julho, até o fechamento de sexta-feira, o petróleo caiu quase 20%, o trigo despencou mais de 16%, o açúcar encolheu 10%, o óleo de soja 9%, o etanol em Chicago 8.5% e o café 8%. Não está fácil para ninguém.
O mercado de petróleo WTI negociado em NY, por exemplo, atingiu o preço mais baixo dos últimos doze meses trabalhando na quarta-feira passada na mínima de 47.96 dólares por barril. O preço médio de gasolina no mercado internacional, baseado nos valores apurados na segunda-feira passada, era de R$ 3.6092 por litro. O preço médio negociado no Centro-Sul era de R$ 3.2400, portanto existe uma defasagem de 10.23% em relação ao preço negociado lá fora. Um aumento da gasolina seria bem-vindo para os produtores de etanol que veriam seu produto se valorizar. No entanto, o dilema que a Petrobrás enfrenta agora é que o aumento no preço vai prejudicar ainda mais o consumo de combustíveis que está declinando de maneira acelerada.
No mês de junho/2015, o consumo de combustíveis no Brasil atingiu 4.83 bilhões de litros, um acréscimo de 9.6% em relação a junho do ano passado. No entanto, o consumo de gasolina A caiu 5.9% no mesmo período. Embora no acumulado do ano comparativamente ao mesmo período anterior, o consumo total de combustíveis tenha subido 5.59%, nos seis primeiros meses desse ano nota-se uma desaceleração que deve baixar esse crescimento para 1% em bases anuais no final deste ano. A pior expectativa de crescimento no consumo nos faz estimar um decréscimo de um bilhão de litros de etanol anidro e hidratado.
A queda livre do real em relação à moeda americana também ajudou o açúcar em NY a seguir sua longa e aparentemente interminável caminhada para níveis cada vez mais baixos. O real atingiu 3.3470 a cotação mais baixa dos últimos doze anos enquanto o contrato futuro de açúcar em NY, o primeiro mês de negociação outubro/2015, chegou a 11.35 centavos de dólar por libra-peso a mais baixa os 11.12 centavos de dólar por libra-peso negociados no mês passado. No entanto, o valor negociado em NY convertido em reais por tonelada equivalente FOB está acima da mínima dos últimos dois anos. Baseando-se no fechamento desta sexta-feira, com NY encerrando o pregão a 11.24 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a 3.3470 reais, o valor em reais por tonelada é de 863. A média de 2015 e de R$ 899 por tonela da, a média de 2014 foi de R$ 879 enquanto o preço mais baixo foi de R$ 724 por tonelada em setembro/2014.
Alguma coisa pode segurar esse mercado? Difícil afirmar. O número de moagem na quinzena foi decepcionante: menos de 29 milhões de toneladas numa semana que teve como média 41.3 milhões de toneladas nas ultimas cinco safras. Normalmente, o acumulado desta semana representou nas últimas cinco safras 41,6% do total moído no respectivo ano-safra, ou seja, se extrapolássemos esse número a safra 2015/2016 chegaria a um máximo de 550 milhões de toneladas. Muito cedo para falar disso, mas é impressionante para quem visita o interior de São Paulo e vê o canavial com muitas flores no topo da cana. Um fenômeno que se chama isoporização que desidrata os colmos, gerando perda de peso, aumento do teor de fibra e diminuição da extração de açúcar pelas moendas. Depois que esse processo ocorre, não há nada que possa ser feito. Alguns produtores dizem que o florescimento atinge até 10% de algumas regiões.
Alguns outros argumentos que podem colocar um chão nesse mercado (lembrando novamente que estamos longe das mínimas em reais por tonelada): os fundos estão vendidos a descoberto em aproximadamente 60.000 lotes. Ficar vendido nesse volume a 15-16 centavos de dólar por libra-peso é uma coisa, mas a 11.50 centavos de dólar por libra-peso é muito mais vulnerável.
A BM&F Bovespa lançou recentemente um contrato futuro de açúcar cristal (máximo de 150 de cor ICUMSA), cotado em reais por saca de 50 quilos, em lotes de 25.4 toneladas (equivalentes à metade do contrato de NY), com vencimentos (liquidação financeira) coincidentes com a bolsa de NY. A BM&F Bovespa promete que formadores de mercado (market makers) entrarão firmes no terceiro trimestre deste ano para trazer liquidez para esse contrato e também para o contrato de etanol hidratado nas duas últimas horas diárias do pregão. Muito embora ambos os contratos não contemplem entrega física, que sempre foi uma questão controversa por parte da BM&F Bovespa, o fato é que podemos ver nascer um importante instrumento para se aproveitar arbitragens e mesmo compensar operações de wash-out que podem surgir no mercado físico de ambos os produtos. Vamos aguardar e torcer para que funcione.
Para aqueles que apostavam quem iria cair primeiro abaixo de 10, se o percentual de avaliação positiva do governo do PT de Dilma ou se o mercado de açúcar em NY em centavos de dólar por libra-peso, o “poste” criado por Lula venceu. Com 7.7% de aprovação ótimo e bom, provavelmente dado por gente que vive numa galáxia distante, Dilma deu um “banho” no mercado de açúcar e chega aos píncaros da mediocridade como a pior presidente da história desse país. Que belo legado. Mas vai piorar muito ainda nos 1.256 dias que ainda faltam para nos vermos livres dessa seita de incompetentes.

(*) Arnaldo Luiz Corrêa é CEO da Archer Consulting e esse artigo é republicado com a sua autorização.
  Voltar