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Dias piores virão? | |||
São Paulo, 28 de junho de 2015 | |||
Por Arnaldo Luiz Corrêa (*) NY fechou a semana em alta. O vencimento julho/2015 que expira na próxima terça-feira encerrou o pregão de sexta-feira negociado a 11.67 centavos de dólar por libra-peso, 12 dólares por tonelada acima do fechamento da semana anterior. Todos os demais meses fecharam no positivo, com variações entre 3 e 9 dólares por tonelada na semana. Rumores de que a Tailândia tenha um excesso de açúcar da ordem de 1.5 milhão de toneladas é verdadeiramente um banho de água fria para aqueles que pensavam que o mercado pudesse ter uma reação. Um veterano trader, que sempre operou bom volume nos futuros, acredita que o contrato futuro de NY pode ir para 10 centavos de dólar por libra-peso em função do que pode vir de notícias negativas da Tailândia. Tudo o mais inalterado, 10 centavos de dólar por libra-peso representariam hoje R$ 716 por tonelada. A última vez que isso ocorreu foi em 2010. Os fundos não indexados estão vendidos a descoberto em 100.000 lotes (5 milhões de toneladas de açúcar equivalente!!). E com os spreads desse tamanho estão nadando de braçada. Para chegar a R$ 716, no entanto, a equação NY vezes dólar precisaria depreciar em quase 15% do valor de hoje. É fato que o açúcar continua tentando se recuperar das recentes quedas, mas nada acontece com os fundamentos que justifiquem alguma melhora nos preços. Esta semana correu o rumor à boca pequena que uma grande trading está se preparando para receber uma gigantesca quantidade de açúcar na entrega de outubro tirando proveito do escorchante spread que tem sido negociado. Não dá para saber se tem algum fundo de verdade nesta história. Além do que, em mercados largados como tem sido o açúcar nos últimos tempos, é fértil o campo das ideias e proliferam as elucubrações sobre estratégias. Existe, no entanto, algo que suporta essa teoria: a matemática. Um spread que encerrou a semana a 140 pontos mas teve um pico de 160 pontos, mostra que mesmo com o custo de US$ 2 por tonelada por mês de armazenagem mais US$ 5-6 por tonelada de custo financeiro, ainda sobrariam líquido 15 dólares por tonelada para quem recebesse o outubro com o intuito de reentregá-lo em março, por exemplo. O sentimento geral é de que as usinas do Centro-Sul capitalizadas devem empurrar com a barriga suas vendas para depois de outubro fixando os contratos contra o março de 2016, embolsando assim o adicional que o spread está mostrando. Enquanto isso, vão abastecer o mercado com hidratado cujo volume de vendas mensal chega próximo de 1.5 bilhão de litros. No trimestre abril-junho, o total de vendas de hidratado já é superior em 18.67% o volume do mesmo período do ano passado. Mas, está longe ainda do volume negociado em 2009 que foi de 4.24 bilhões de litros. A média diária dos fechamentos de junho (sempre pegando o primeiro mês na tela) até o momento é de 11.77 centavos de dólar por libra-peso, a menor desde novembro de 2008 quando estávamos no meio de uma crise internacional. Já a média em reais, que é de R$ 840.41 por tonelada FOB é a menor desde setembro do ano passado quando atingiu R$ 783.38. Lembro da crise em maio de 1999 quando o açúcar bateu 4.36 centavos de dólar por libra-peso. Numa reunião acalorada escasseavam os argumentos entre os presentes que apontassem uma recuperação dos níveis de preço do mercado. Qualquer ideia, minimamente altista que fosse, era imediatamente rechaçada pela maioria dos presentes que já esperava um mercado a 2 centavos (acredite, isso é sério). Encurralado pelos outros participantes, o único altista sobrevivente presente, já sem mais o que dizer, deu seu argumento final: “o mercado vai ter que subir, Deus vai ter que fazer alguma coisa”, arrancando gargalhadas entre os presentes e aliviando um pouco o ambiente pesado. Não sei se foi Deus, mas o fato é que doze meses depois o mercado negociava o dobro do preço. Na semana passada comentei aqui que as empresas que comercializam açúcar no mercado doméstico usando o índice ESALQ como parâmetro de fixação correm um enorme risco de base. Heloisa Lee Burnquist, pesquisadora e prestigiada professora da ESALQ, com uma lista quilométrica de serviços prestados ao setor sucroalcooleiro, PhD na Universidade de Cornell, uma das oito universidades americanas da respeitada Ivy League, e que nos envaidece sendo uma de nossas leitoras atentas, não concordou com minha observação. A professora argumenta que a existência de um sistema de pagamento de cana - Consecana – seria o racional dessa negociação utilizando o índice. É verdade. O que eu me referi, embora reconheça que não ficou claro no texto, é que as empresas devem evitar (por aumentar desnecessariamente o risco de base) ter parâmetros distintos de apreçamento nas duas pontas da negociação. Se compram açúcar usando ESALQ que o vendam usando ESALQ; se compram baseados em NY, vendam baseados em NY; mas não misturem as estações. Risco de base pode quebrar uma empresa, e – não raramente - quebra: quem não lembra do que ocorreu há alguns anos com uma empresa no Centro-Sul que fez um contrato de venda de etanol de longo prazo precificando o produto contra o RBOB (contrato de gasolina)? Lembro-me de ter dado uma conferência naquela época e ter argumentado que a correlação entre os dois produtos (etanol e gasolina) era de 0.269 e isso trazia um risco absolutamente desnecessário. Ouvi de gente séria aquele velho argumento “altamente científico” que não admite contestação: “Ah, Arnaldo, mas tá todo mundo fazendo isso”. O resto da história vocês já sabem. A correlação hoje de ESALQ com NY (últimos 100 dias) é de 0.7614. Pode não ser tão ruim, mas como sabemos, dados históricos não são garantia de que se comportarão da mesma maneira no futuro. Corrijo a frase do último relatório que pode ter deixado a professora com a impressão de que esse escriba tem algo contra a ESALQ: o mercado interno vai ter que evoluir e aprender a usar o mesmo parâmetro (ESALQ ou NY) nas duas pontas. Essas mudanças só ocorrem pela dor, nunca pelo amor. (*) Arnaldo Luiz Corrêa é CEO da Archer Consulting. Artigo republicado com a autorização do autor. |
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