Mercado
Um governo que pune quem faz hedge
São Paulo, 25 de abril de 2015    
Por Arnaldo Luiz Corrêa (*)

O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana rigorosamente inalterado em relação à sexta-feira da semana anterior. O vencimento maio/2015, que expira na próxima quinta-feira, encerrou cotado 13.23 centavos de dólar por libra-peso. No entanto, é sempre bom lembrar que a variação desta semana foi negativa em 31 reais por tonelada, pois o real fechou a 2.9550 contra 3.0544 na semana anterior. Acende-se aqui uma luz amarela: este seria o pior dos mundos para o açúcar, real valorizado com açúcar caindo. O custo da importação da gasolina sendo menor em reais cria uma expectativa de preços menores para o hidratado.
O spread maio/julho negociando a 4 pontos de prêmio pode, segundo um corretor, incentivar a entrega de mais de um milhão de toneladas contra o vencimento do contrato maio/2015 nesta próxima semana. O mercado encontrará dificuldade para se sustentar nos níveis atuais se houver mesmo essa entrega maciça que se espera além do fato de os fundos terem reduzido duas posições em 12.000 contratos (comprando NY) e o mercado reagiu muito pouco em termos de preço. Não está fácil para ninguém
Se dólar e petróleo se valorizarem, o etanol fica mais competitivo e menos açúcar brasileiro será disponibilizado para o mercado mundial, apontando preços para cima em NY. Se o petróleo sobe e o real se valoriza em relação ao dólar, as importações de petróleo em reais se mantem inalteradas e o mercado de açúcar fica mais sensível às arbitragens com tendência do preço em NY entre neutra e baixista. Se o petróleo cai mas o dólar se valoriza em relação ao real, é neutro para o etanol (que não muda sua paridade em reais com a gasolina) e baixista para o açúcar até o limite da rentabilidade do hidratado. Por fim, se ambos o petróleo e o dólar se desvalorizam, é ruim tanto para o etanol quanto para o açúcar. Mesmo sendo absolutamente conservador na ponderação dessa matriz, percebe-se que se fosse uma luta entre altistas e baixistas, nos níveis atuais, seria quase um empate técnico com os altistas ganhando por um ponto (mais por fatores exógenos: dólar e petróleo do que pelo açúcar) .
O que pode mudar isso? Tamanho da safra de cana abaixo de 570 milhões de toneladas, surpresas vindas da China e Tailândia, atrasos na moagem ou escoamento. Não é o que se pode chamar de mundo cor de rosa.
Por meio de decreto presidencial a vigorar a partir de 1° de julho, o governo vai cobrar 4.65% de imposto sobre ganhos em operações financeiras, inclusive aquelas realizadas para fins de hedge. Ou seja, imagine que uma usina se proteja para a safra 2016/2017, vendendo o vencimento maio/2016 a 14.81 centavos de dólar por libra-peso e concomitantemente fazendo o hedge da moeda que para aquele vencimento estaria a 3.2650. Essas operações são absolutamente normais e corriqueiras e temos falado muito neste espaço sobre a importância de se mitigar riscos, etc. Pois bem, convertendo o hedge acima temos um valor de R$ 1109 por tonelada equivalente FOB.
Vamos assumir que no vencimento dessa operação no ano que vem, o mercado esteja negociando exatamente o mesmo valor em reais por tonelada mudando NY e mantendo o valor final. Se NY for para 16, por exemplo, o dólar negociando 3.0222, a usina paga imposto sobre a diferença entre 3.2650 e 3.0222. Assim, o valor hedgeado que a usina pensava que fosse líquido e certo de R$ 1109 cai para aproximadamente R$ 1105. É mais um assalto ao bolso do setor. A usina vai ter que fazer o hedge e torcer para que o mercado de câmbio vá contra ela, pois só assim não terá imposto. Uma medida estapafúrdia, bem ao jeito petista de governar, que joga pela janela a lógica e deteriora a ideia de mitigação de risco. No exemplo acima, caso o mesmo padrão se mantenha para outras operações, assumindo uma exportação de 24 milhões de toneladas, o setor pagaria R$ 92 milhões adicionais de imposto. Imagine o tamanho do rombo se considerarmos todas as demais commodities exportadas pelo Brasil. Alguém tem que a judar a cobrir o rombo fiscal do governo.
O balanço divulgado pela Petrobrás, com prejuízo recorde, é um tapa na cara de todos os brasileiros. Qual precedente existe na história mundial de uma empresa listada em bolsa, que já fora referência internacional de competência, colocar em seu balanço perdas de R$ 6.1 bilhões referentes à corrupção? O Brasil está no fundo do poço da moralidade. Assistimos há doze anos a atuação de um governo medíocre sob todos os aspectos, que prima pela corrupção, pela desfaçatez, pela mentira escabrosa, pela falta de moral, pela falta de vergonha na cara, comandado por um partido que é uma verdadeira facção criminosa, abrigando quadrilheiros condenados e transformados em heróis por esses verdugos que não vão largar o osso tão cedo e continuarão sua empreitada de transformar o país numa Venezuela. Ainda mais inacreditável do que esse filme de terror sem fim é perceber que as investigações conduzidas até agora não chegaram ao verdadeiro mentor intelectual, o grande chefe, o “grande líder das massas”, o bandido-mor, o dissimulado desprezível, o cínico manipulador, o maior farsante da história republicana que não honra as calças que veste. Haja paciência com esses crápulas.

(*) Arnaldo Luiz Corrêa é o principal executivo da Archer Consulting. Texto publicado com autorização do autor.
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