Mercado
Commodities sobem com queda do dólar americano
São Paulo, 19 de abril de 2015    
Rodrigo Corrêa da Costa (*)

Os constantes adiamentos da Grécia em apresentar as medidas necessárias para garantir acesso aos fundos do Banco Central Europeu e do FMI parecem estar terminando, entretanto com um alto risco de um desfecho negativo, diferente do que o mercado esperava.
Gregos e Alemães estão se preparando para um eventual default que possa desencadear uma saída do país da zona do Euro, e com isto as bolsas europeias perderam de 2% a 5% nos últimos cinco pregões. Os títulos da dívida grega apontam para um calote, afetando também os papéis dos países periféricos da moeda comum.
Nos Estados Unidos os múltiplos inchados das ações juntamente com indicadores econômicos que deixam em dúvida de quando os juros podem aumentar provocaram a retração dos principais índices de bolsa. A queda das bolsas chinesas foram parcialmente ajudadas pela autorização de fundos poderem agora emprestar ações para investidores vender papéis à descoberto.
Com este pano de fundo nem mesmo o dólar americano se salvou, perdendo para Euro (me escapa a razão), e o Real firmando com o arrefecimento da crise política brasileira. As commodities se beneficiaram de um dólar mais fraco tendo o complexo de energia (gasolina, petróleo, óleo de aquecimento e gás natural) liderado entre as matérias-primas ganhadoras, seguido pelo café e o suco de laranja.
O contrato de julho de 2015 em Nova Iorque encerrou no meio do intervalo entre US$ 130 e US$ 150 centavos por libra-peso que tem negociado desde o fim de fevereiro. A atividade foi concentrada nos spreads dada a proximidade do período de entrega do contrato de maio. Por sinal a volatilidade do spread nas últimas duas semanas machucou quem esperava um comportamento parecido ao acontecia quando os fundos estavam vendidos, há um ano. Pelo jeito muitos foram pegos de surpresa já que o maio/julho oscilou entre US$ -3.30 cts e US$ -1.10 cents desde o dia 1º de abril, uma montanha-russa.
Os estoques americanos do GCA tiveram queda de 116,443 sacas em março, mês que entre 1989 e 2014 em média tem um incremento de 150,732 sacas. Aparentemente alguns fundos leram como positivo o dado, pois as importações acumuladas no país cresceram 1.75% e os estoques totais estão em 5,035,109 sacas, apenas levemente mais altos do que as 4,958,411 sacas que estava nos armazéns há um ano. No Japão os estoques caíram 8.7 mil sacas em fevereiro para 3,01 milhões de sacas.
O começo da colheita do conilon no Brasil em breve deve disponibilizar mais café para as indústrias locais, assim como em maio a safra se inicia na Indonésia, ambos tem um mercado consumidor grande. Alguns lotes de arábica da safra 15/16 começaram aparecer, nada representativo e com bastante grãos verdes ainda. Os participantes do mercado esperam com ansiedade o resultado inicial da renda, que será o primeiro indicador a confirmar se a colheita deste ano pode mesmo ser igual ou maior do que em 14/15.
Um dos principais exportadores brasileiros divulgou sua estimativa de produção para o ciclo de 15/16 entre 45.85 e 48.55 milhões de sacas, com o arábica ficando entre 30.95 e 32.90, e o conilon entre 14.9 e 15.65 – produção abaixo de seu número do ano passado que foi de 47.95 milhões de sacas (30.85 + 17.10).
A ABIC divulgou que o consumo brasileiro deve ser de 20.33 milhões de sacas em doze meses contados até outubro próximo, o que coloca o Brasil acima do consumo per capta dos Estados Unidos. Como de costume alguns analistas questionam se bebemos mesmo mais café do que os “gringos”.
As exportações vietnamitas têm mantido um ritmo mais lento totalizando em março 2.18 milhões de sacas, e o volume acumulado desde outubro é de 10.83 milhões de sacas, 25.4% a menos do que no mesmo período anterior. Os produtores por lá estão irrigando suas lavouras, receosos quanto ao retorno das chuvas que podem preocupar caso atrasem por outro mês. Por outro lado se o clima ajudar a produção pode recuperar, eventualmente batendo um novo recorde de alta.
O fechamento do terminal na sexta-feira foi em cima da média-móvel de 40 dias, patamar que se respeitado pode ajudar a forçar mais liquidações de fundos que venderam recentemente – como apareceu no relatório do COT (posicionamento dos traders). Uma continuação do enfraquecimento do dólar pode também ser um componente importante para o mercado romper os US$ 150.00 centavos, expandindo um pouco o intervalo mencionado acima. Resta saber se o movimento da moeda americana é apenas de tomada de lucro ou não (eu particularmente acho que sim).
(*)Rodrigo Corrêa da Costa escreve semanalmente esse comentário sobre o mercado de café para o informativo da Archer Consulting. É republicado aqui com autorização dessa empresa.
  Voltar