Mercado
Um chamamento para o agronegócio
São Paulo, 10 de fevereiro de 2014    
Por Gustavo Diniz Junqueira (*)

Se o setor é o mais bem sucedido do País e a percepção da sociedade em relação a isso avançou, está mais do que na hora do agronegócio acentuar a sua participação nas discussões dos mais relevantes temas da agenda nacional.

O agronegócio ganhou os holofotes da política brasileira a partir do segundo semestre do ano passado. O resultado econômico que o setor tem proporcionado ao País nas últimas décadas – com efeitos sociais latentes em geração de novas oportunidades de negócios, emprego e renda – o catapultou ao centro das atenções do debate político que antecede as eleições gerais de outubro.
Trata-se de um momento singular na história do Brasil, bem diferente do início do século XX. Hoje, o agronegócio está espalhado pelo nosso território e desempenha papel de protagonista no desenvolvimento do País.
O setor abriga milhões de produtores e trabalhadores rurais por meio de cadeias produtivas que integram uma multidão de fornecedores da indústria e de serviços – não se restringindo apenas a uma elite – sendo o motor que movimenta centenas de economias regionais conectadas aos mercados internacionais.
Produzindo volume e diversidade – impulsionado pela aplicação direta de ciência, pesquisa, tecnologia, e claro, clima, recursos naturais e vocação – o setor obteve reconhecimento inédito, o que, obviamente, lhe traz oportunidades e desafios.
Toda conquista vem acompanhada de benefícios, mas também de obrigações, e é neste último que reside o maior desafio do agronegócio de agora em diante. Na verdade, um chamamento. Se o setor é o mais bem sucedido do País e a percepção da sociedade em relação a isso avançou, está mais do que na hora do agronegócio acentuar a sua participação nas discussões dos mais relevantes temas da agenda nacional.
É mais do que evidente que infraestrutura logística, seguro rural, o Código Florestal, defesa agropecuária, política agrícola, entre tantos outros itens de interesse direto para a produção de alimentos, são assuntos-chave e prioritários. As mais variadas mazelas que pairam ou acometem estas questões influenciam diretamente a competitividade e consequentemente as entregas do setor.
Além destes temas, a pauta do agronegócio é tomada também por indefinições acerca de segurança jurídica, legislação trabalhista, negociações internacionais, reforma tributária, meio ambiente, e assim por diante. Isso sem contar as abordagens sobre a política econômica em geral, em especial câmbio e juros. Mas será que é só isso? Será que o setor não pode [e deve] se aprofundar em outros temas cruciais – verdadeiros pilares - para o nosso futuro?
Exemplos? Alguns, a começar por segurança pública, saúde, educação, combate à corrupção, mobilidade urbana e equidade social. O agronegócio precisa se posicionar de modo mais agudo no debate destas questões. Não se trata de presunção, e sim de necessidade. Os mesmos problemas – senão piores – que atingem “as cidades” também atingem o “campo”.
O setor não pode se abster ou ficar aquém do papel que lhe cumpre na discussão destes assuntos. O agronegócio pode e deve contribuir como um importante agente transformador.
E por quê? Certamente, porque, se a corrupção fosse menor no País, o gargalo logístico seria atenuado. Se o saneamento básico fosse menos pior, a saúde nas grandes metrópoles e no interior seria melhor e o meio ambiente, cuidado de maneira mais sustentável. Se a educação fosse prioridade, o apagão de mão de obra qualificada no setor produtivo rural também seria menor.
Melhor segurança pública acarreta menor risco sistêmico e redução de custos ligados à segurança privada – na cidade e no campo. Mobilidade urbana eficiente a custos acessíveis acarreta em melhor distribuição dos alimentos. A equidade social promove justiça na repartição das riquezas, incorporando ao mercado de trabalho qualificado e a cidadania plena setores até então marginalizados, que consumirão mais alimentos e demais produtos do campo.
Se estes desafios macroestruturais forem trabalhados, os resultados serão observados no longo prazo, mas serão muito mais duradouros e consistentes. No âmbito das inúmeras reformas que o Brasil precisa, a política também é uma em que o agronegócio pouco ou nada opina. Um grave erro estratégico, já que lá na ponta final, um sistema eleitoral menos complexo, ágil e transparente faria muito bem ao dia a dia de nossos produtores e agroempresários.
O Brasil não tem um projeto claro para o País e sofre do mal da procrastinação, seja por culpa ou dolo. Vivemos, neste ano eleitoral, um período delicado. A retomada do crescimento exige estabilidade econômica, planejamento e excelência em execução. A correção de rota não passa pela negação, e sim pela afirmação de nossas instituições. O que está errado é a condução delas. A Rural está preparada e vai participar deste debate, com foco na construção do nosso amanhã.

(*) Gustavo Diniz Junqueira é presidente da Sociedade Rural Brasileira, SRB
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