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Tiraram o bode da sala? | |||
São Paulo, 16 de junho de 2013 | |||
Por Arnaldo Luiz Corrêa (*) Numa semana em que mais de 1.000.000 de contratos futuros foram negociados, o mercado de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com alta de 35 pontos em relação ao fechamento da semana anterior, cravando 16,78 centavos de dólar por libra-peso no vencimento julho de 2013. A última vez que tivemos um volume semanal dessa magnitude foi em fevereiro de 2011. E em apenas 6 ocasiões desde 1961 o mercado de açúcar negociou mais de 1.000.000 de contratos futuros numa semana, todas elas depois de 2008. Apenas uma dessas 6 vezes esse volume indicou mercado para baixo. A moagem do Centro Sul atinge, pelo último número publicado pela Unica um volume de 116 milhões de toneladas moídas. A média percentual de moagem das 5 últimas safras no acumulado do mesmo período comparativamente ao volume final de produção dos respectivos anos foi de 18,67%. Desse modo, o volume final da 2013/2014 seria de 620 milhões de toneladas. O consenso de mercado aponta para 590, o número da Archer está 2% abaixo disso. Note-se que as vendas de etanol no mercado interno atingiram até o início da safra 3,382 bilhões de litros um volume 3,5% superior à média dos últimos 5 anos no mesmo período. As vendas totais (incluindo exportação) estão 2% acima dessa média. Pelos últimos preços negociados no mercado internacional, tanto o anidro quanto o hidratado liquidam acima do açúcar em NY. No entanto, os preços negociados no mercado interno estão acima do mercado internacional entre 120-180 pontos de prêmio equivalente açúcar NY. Por outro lado, o mercado interno de açúcar continua bastante calmo, um reflexo da desaceleração da economia, obra da genialidade de Mantega e Dilma. Quando em dezembro do ano passado a revista The Economist pediu a cabeça de Mantega pela indiscutível incompetência do ministro na condução da economia brasileira, a “impertinência da revista o tornara mais forte”. Na edição da semana passada a revista ironizou: “Solicitamos à presidente para ficar com ele a todo custo: ele é um sucesso”. Depois de negociar no menor valor em reais por libra-peso em pouco mais de 2 anos (em 22 de maio), quando o dólar ainda não havia se valorizado em relação ao real, se o peso da desvalorização fosse passado integralmente aos preços, NY teria atingido a marca de 15,36 centavos de dólar por libra-peso. Em outras palavras, o mercado segurou bravamente quase 100 pontos acima desse nível. Um executivo do mercado acredita que “o pior já passou” e que os preços devem se estabilizar. Corroboram com essa ideia o fato de que o mix de produção pró-etanol pode zerar o superávit de açúcar no mundo, diminuindo o impacto que ele teria nos preços já refletido nesse sentimento baixista generalizado. A conferir. O rally (subida repentina de preços após uma baixa acentuada) dessa sexta, que para alguns não tem explicação fundamentalista, pode ser apenas uma tomada de lucros por parte dos fundos que estão vendidos na média de 18,50 centavos de dólar por libra-peso e começam a coçar as mãos para realizarem seus lucros que, segundo alguns traders, beiram os 300 milhões de dólares. Também pode ser um fator propulsor o volume de puts de 1650 vendidas contra o vencimento julho que expira a semana que vem: nada menos que 20.000 lotes. Ou seja, uma pitada de desespero pode ter ocorrido. Dizem que a metáfora do bode na sala remonta da Rússia na época do comunismo. Um pai de família com uma penca de filhos morando num cubículo foi reclamar com o chefe do partido sobre as péssimas condições em que eles viviam naquele acanhado apartamento. O chefe prometeu resolver o problema do homem e ordenou a seus asseclas que fosse levado um bode para a casa do reclamante para conviver com a família. O negócio virou um inferno pois além de sujar o local, o animal exalava um cheiro insuportável. A situação piorara. Alguns dias depois, o homem voltou ao chefe do partido e implorou que tirassem o bode da sala. Assim fizeram, para alivio do pobre homem e sua família. Dias depois o chefe do partido chamou novamente o homem para saber como estavam as coisas. Ao que o humilde cidadão respondeu: “agora que tiraram o bode da sala, está bem melhor”. O mercado tem estado tão deprimido, os usineiros de cabeça baixa, que quando o mercado tem um rally de cinquenta pontinhos a sensação é de que tiraram o bode da sala. Como bem disse um corretor baseado na Suíça em seu recente relatório, o mercado de açúcar está entregue aos especuladores, que controlam os futuros em vista da absoluta falta de novidades no front. E vamos continuar assim. Falta de perspectiva, real se desvalorizando, fundos aumentando a posição vendida a descoberto, posição em aberto subindo, volatilidade derretendo entre outras calamidades. A alta de sexta pode ter sido um alento mas ainda está longe de se constituir numa recuperação irrevogável de preços. Ou será que tiraram o bode da sala? (*)Arnaldo Luiz Corrêa é CEO da Archer Consulting |
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