Mercado
Superávit do arábica e equlíbrio do robusta
São Paulo, 17 de dezembro de 2012    
Rodrigo Corrêa da Costa (*)

O banco central americano (FED) fez o seu papel em pressionar republicanos e democratas ao declarar que a instituição não tem instrumentos para proteger a economia do abismo fiscal.
O FOMC (equivalente ao COPOM brasileiro) manteve os juros entre 0 e 0.25%, indicando que assim ficará até 2015 – salvo se a taxa de desemprego for abaixo 6.5% ou a inflação escalar acima de 2%.
Na Europa o índice de confiança do consumidor alemão tentou animar os investidores, mas no final dos últimos cinco dias as principais bolsas de ações fecharam virtualmente inalteradas.
As commodities em sua maioria subiram ajudadas (talvez) pela desvalorização do dólar americano.
O café em Nova Iorque fez novas mínimas, devolvendo rapidamente os ganhos do final da semana anterior. Especuladores e origens foram os responsáveis pela perda de US$ 14.15 por saca, e o fechamento foi o pior desde 11 de junho de 2010.
Londres por outro lado sustentou, quer dizer, o contrato de janeiro subiu 12 dólares por tonelada, enquanto o contrato de março caiu 32 dólares por tonelada, fazendo com que o spread entre os dois meses saísse de US$ 8 de desconto para US$ 36 de prêmio (squeeze a vista ?)
A consequência das performances distintas dos dois mercados foi o estreitamento da arbitragem para US$ 58.24 centavos por libra, ou uma diferença de preço de US$ 77.04 por saca entre as duas qualidades.
Alguns agentes culparam a queda do arábica pela divulgação de uma estimativa para a safra 13/14 de Brasil em 53.4 milhões de sacas. Honestamente o número, que não está alinhado com outros participantes de mercado, veio acompanhado de uma revisão negativa da safra corrente, que no frigir dos ovos poderia ser lido até como positivo.
Acho que o mal que o contrato da ICE está sofrendo é fruto do atual superávit da qualidade do café que negocia, enquanto o produto da LIFFE está em equilíbrio dado o crescimento da demanda mundial para o robusta. Infelizmente o grande perdedor de market-share do momento é o café arábica brasileiro – o que diga-se de passagem não significa que o mundo consegue viver sem ele, óbvio.
O departamento de agricultura americano (USDA) divulgou o seu relatório de produção, consumo e estoques mundias de café para o ano-safra corrente, 2012/2013. Segundo o órgão o mundo produzirá 147,925 milhões de sacas, consumirá 141,7 milhões, e os estoques no final do período estarão em 27,20 milhões de sacas. Um superávit total de 6,225 milhões de sacas (em sua maior parte de arábica) e um estoque que dura 10 semanas de consumo – maior do que o ciclo anterior, mas mesmo assim perigosamente baixo para uma cultura de um ciclo mais longo.
O USDA trabalha com uma safra brasileira de 55.9 milhões de sacas (40.2 de arábica e 15.7 de conillon), um volume de 22,4 milhões para Vietnã, 9.7 milhões para Indonésia, e 7.5 milhões para Colômbia.
Para efeito de comparação a OIC fala em produção para 2012/2013 de 146 milhões, mas seu número de consumo é só de 2011 (139 milhões). Se assumirmos um crescimento de consumo de 2%, o superávit é de 4.22 milhões de sacas.
Resumo, não há falta de café, e a sobra não é lá estas coisas. Mais uma vez a questão é a perversa mudança do blend, que faz do arábica refém das cotações de Londres.
No mercador físico o ritmo já é de festas, com pouca gente fazendo poucos negócios.
Torradores, entretanto têm aproveitado as quedas do mercado futuro para aumenta suas coberturas no flat-price (bolsa). Já para os diferenciais a aposta é de enfraquecimento, principalmente em função do baixo volume negociado das safras brasileira e vietnamita.
Continuo achando que o mercado vai ficar entre 140 e 160, com margem de erro de 10 centavos para um ou outro lado.
Vamos ver se haverá surpresa até nosso próximo comentário – no final de janeiro de 2013.

(*)Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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