Mercado
Meio bilhão de dólares no centro da mesa
São Paulo, 1 de julho de 2012    
Por Arnaldo Luiz Corrêa (*)

O mercado de NY fechou a semana em alta de 157 pontos, ou 34,61 dólares por tonelada, com o vencimento julho expirando a 21,81 centavos de dólar por libra-peso. Os demais meses fecharam com variação positiva entre 10 e 35 dólares por tonelada. A entrega física foi de quase 22.000 lotes, ou mais de 1,1 milhão de toneladas. Comenta-se que a estratégia dos vendedores foi escolher Paranaguá como porto de entrega contando com a ajuda das chuvas e dos atrasos no porto, tirando vantagem do mercado invertido e apostando que eventuais custos sobre demurrage sejam menores que o prêmio do spread. Se o mercado físico no spot negocia com prêmio de 30 pontos, uma entrega desse tamanho só se justifica se o vendedor não tem o produto agora e espera recebê-lo mais tarde para então entregá-lo ao comprador. O recebedor, num mercado invertido, ou tem destino imediato para esse açúcar (o que se duvida muito) ou está apenas jogando o jogo do spread. Para fazer valer s ua estratégia vai nomear os navios imediatamente e firmar o mercado físico no spot. Ou seja, o mercado futuro deverá subir antes de cair. Um jogo de pôquer de US$ 550 milhões em fichas no centro da mesa.
Fatores macro afetaram o açúcar durante a semana e vimos pressão de venda que tomou de volta os ganhos recentes até se firmar no final da semana. Percebeu-se a demanda chinesa para o açúcar mostrando sua cara. Toda vez que o mercado se aproxima dos 20 centavos de dólar por libra-peso o comprador final se anima. Até final de maio os chineses importaram mais de 1 milhão de toneladas (no ano passado nessa mesma época o volume era de 410,000).
A Índia revisa seu número de produção. O estado de Maharashtra coloca seu volume em 8 milhões de toneladas (de 9 milhões). A Rússia dificilmente conseguirá repetir duas boas safras em sequência. Somem-se a essas notícias a já mencionada compra da China, a melhora da situação macro vinda da Europa e as chuvas que atrasam a safra no Centro Sul para fazer com que o mercado fique mais volátil. Em verdade a volatilidade do mercado deu uma excelente recuperada para aqueles que olham as opções. A volatilidade histórica de 40 dias marca 31,32% enquanto a de 20 dias pula para 39,12%.
Conforme anunciado pela própria empresa, a estatal brasileira do petróleo refaz seus planos com metas mais exequíveis. Isso quer dizer o seguinte: vai produzir menos petróleo tendo que substituí-lo pela importação de mais gasolina e do etanol americano ou pelo etanol de cana. Na semana passada a presidente do Brasil autorizou o reajuste do preço da gasolina na refinaria compensando o mesmo com a redução do imposto, ou seja, sem mudar o preço final para o consumidor. Com isso, as usinas ficam chupando o dedo, já que nenhuma migalha desse aumento lhes foi repassado.
É fato que o Brasil continua tendo um acréscimo anual de demanda adicional de combustível via aumento na venda de veículos. Também é fato da incapacidade operacional que o país tem de aumentar a produção de petróleo, vide a própria estatal que revê suas metas. A falta de transparência do governo sobre a formação de preço do etanol espanta os investidores que sabem fazer conta e vai resultar em breve num “apagão de combustíveis” no Brasil, como disse um especialista do setor.
A presidente do Brasil se irrita ao ouvir que os investimentos necessários no setor sucroalcooleiro para atender à demanda de etanol só ocorrerão quando os investidores souberem claramente as regras do jogo. Dilma acha uma afronta que seja dessa maneira e se incomoda se algum deles “ficou rico”. Arrogante e de formação marxista-leninista, não consegue entender o funcionamento do sistema capitalista. Acha que rasgar dinheiro está na ordem do dia dos empresários. Talvez por obrigar a estatal do petróleo a fazer o mesmo ao longo desse ano. A presidente não tem boa vontade para com o setor. Escolhe os interlocutores, não recebe uns, fecha a cara e levanta as sobrancelhas para outros. Age como se lesse a cartilha dos caudilhos Chavez, Morales, Fidel, Kirchner, e tantas outras pragas que infestam a América Latina. Tem todo o direito de não gostar do setor, como cidadã. Não pode nem deve agir dessa forma como suprema mandatária. Deveria tratar o cargo que ocupa com a liturgia que el e merece e o setor para o qual torce o nariz com o respeito de quem provê milhões de empregos diretos e indiretos.
Enquanto isso, em Londres, investidores se reuniram na semana passada para ouvir de representantes do governo brasileiro e da iniciativa privada sobre as perspectivas de investimentos no setor. Havia representantes da comunidade financeira e de investidores de Londres e de países da Comunidade Europeia. A unanimidade, segundo um participante do fórum, é a “escuridão total e a falta de regras”. “Não existe falta de dinheiro para investir, nem preocupação com a volatilidade do mercado”, considerada normal pelos investidores, “mas preocupa a falta de clareza sobre a rentabilidade do etanol e da bioeletricidade”. Ou seja, a perspectiva de crescimento (e investimento) é zero se o escuro prevalecer.
Interessante artigo sobre a Arábia Saudita na revista The Economist desta semana. O desemprego entre os sauditas com menos de 30 anos é de 30%. O salário médio de um saudita comparado ao de um estrangeiro na construção civil no país é de 9 para 1. Apesar de leis estabelecendo cotas para os sauditas e da quase duplicação de postos de trabalho na iniciativa privada, a proporção de sauditas na força de trabalho privada caiu de 17% em 2000 para 10% em 2010. O governo tem subsídios de desemprego de US$ 600 mensais e o salário médio dos funcionários públicos é quase o dobro do salário pago pelo setor privado. Segundo uma empresa de gestão em Jeddah, esse modelo só se sustenta com o barril do petróleo acima de US$ 75. Precisando de US$ 100 para se sustentar em 2017 e estratosféricos US$ 320 em 2030. Grosso modo, o petróleo teria que subir 7,5% ao ano para pagar essa conta.
O custo de produção do açúcar apurado pelo modelo da Archer Consulting, considerando o CONSECANA médio da safra e o dólar médio dos últimos 30 dias, está em 36,0715 reais por saca na usina, sem custo financeiro.

(*) Arnaldo Luiz Corrêa e CEO da Archer Consulting e autoriza a republicação desse relatório.
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