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Sexta-feira 13 - Cuidado, Jason está vendido a descoberto | |||
São Paulo, 14 de abril de 2012 | |||
Por Arnaldo Luiz Corrêa (*) Bem que poderia ser uma das sequências intermináveis da série de cinema Sexta-Feira 13. A última sessão da semana foi bem no estilo do famoso filme. Pelo menos pelo banho de sangue dado ao mercado, ávido por notícias construtivas, mas que combinou uma dose explosiva de previsão de safra de cana da CONAB, ridícula e desnecessariamente colocada a 532 milhões de toneladas para o Centro-Sul e com a desaceleração da economia chinesa que prevê crescimento de apenas 8.1%. Difícil dizer quanto essa redução “tão significativa” poderá representar em toneladas de açúcar que deixarão de ser consumidas na segunda maior economia do mundo. Mas, o fato é: quem se importa. O que interessa é que o mercado derreteu e parece que Jason, o psicopata da mencionada série, continua com a faca na mão. É claro que, tom jocoso a parte, se China espirra o mundo pega uma pneumonia. Se a economia chinesa começa a dar sinais de fadiga, os investidores saem das commodities e voam para ativos mais seguros. Dentre as commodities agrícolas, o desempenho ruim do açúcar (queda de 5%) só foi superado pelo suco de laranja que azedou 7.4%. Milho, aveia, trigo e café também caíram. Só o cacau e algodão subiram na semana. Mas fique atento a uma coisa: no ano a soja já subiu 19% contra zero do açúcar. A cana de açúcar concorre com a soja na visão do pequeno produtor indiano. A queda do açúcar na semana foi de 121 pontos no vencimento maio/2012, que encerrou o pregão de sexta a 23,37 centavos de dólar por libra-peso, e cujas opções vencem na segunda e podem ter contribuído para a avalanche que se viu. Os demais meses de vencimento fecharam em quedas entre 45 e 89 pontos (entre 10 e 20 dólares por tonelada). Há um ano o mercado fechava a semana cotado a 25,58 centavos de dólar por libra-peso e o dólar a 1,5929; com o dólar desta última sexta-feira cotado 1,8358 isso seria o equivalente a NY a 22,20. Pergunta: em termos de oferta demanda você, caro leitor, acha que estamos melhores ou piores do que o ano passado? O número da UNICA chegou tarde demais (509 milhões de toneladas) quando o mercado ainda estava com batráquio enfiado na goela, se engasgando com o número da CONAB. O estrago já tinha sido feito e aí é só colocar o prego no caixão. Como alento, o primeiro número divulgado na safra 2011/2012 foi bem acima do que acabou se concretizando. Se o ritmo se repetir esse ano, a reação será impetuosa. O mercado físico continua largado completamente e alimenta ainda mais o desânimo do mercado futuro que derrete de maneira rápida. Por outro lado, é bom observar que não está havendo fixação nesses níveis, pois as usinas de um modo geral estão relativamente bem fixadas. Não há pânico porque as fixações ainda em aberto estão concentradas no vencimento outubro, por isso não há pressa em se fixar para vencimentos tão longos. Se houver qualquer sinal de recuperação dos preços no vencimento julho influenciada por novos números de safra, não vai ter vendedor para atender a eventual cobertura de posições vendidas à descoberto por parte das tradings. O spread maio/julho perdeu 7 dólares por tonelada na semana, ou seja, o maio caiu 7 dólares por tonelada a mais do que o julho, indicando que existe uma pressão vendedora nos primeiros meses de vencimento pelo motivo do mercado acreditar que existe excesso de açúcar no sistema comparativamente à demanda que é inexistente até aqui. Desde o final de março as cotações de NY caíram mais de 5%. Os comprados estão com a cabeça doendo. O mercado aguarda agora ansiosamente o número de safra da Canaplan, que tem sido muito precisa nas suas previsões. Tem gente apostando que o número de moagem a ser divulgado começa com 4. Como disse um experiente corretor de NY, “o Brasil é um país de muitos pontos de vista diferentes, é uma questão de escolher o que você deseja trabalhar.” Um jovem trader da capital paulista acredita que o mercado vai piorar antes de melhorar. Segundo a bola de cristal modelo 2.0 que ele usa, NY deve visitar os 20,70 centavos de dólar por libra-peso para, aí então, subir com mais vigor. Explica-se: muitas tradings estão vendidas para o destino a descoberto, mais aqueles que estão vendidos nos spreads e nos futuros. Quando o mercado virar, a subida será explosiva, segundo o mesmo trader. O Modelo desenvolvido pela Archer Consulting estima que pelo menos 16,19 milhões de toneladas estejam fixadas para a safra 2012/2013 ao preço médio de 24,49 centavos de dólar por libra-peso. (*) Arnaldo Luiz Corrêa é CEO da Archer Consulting, www.archerconsulting.com.br |
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