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Reflexão ambiental
São Paulo, 8 de fevereiro de 2012    

Por José de Sampaio Góes (*)

A resolução dos problemas ambientais advindos da intensificação agrícola e industrial é de suma importância para o futuro. A intensificação da agricultura tem causado: perdas por erosão; contaminação da água e do ar por pesticidas e nutrientes; resistência de insetos, ervas daninhas e patógenos aos métodos químicos de controle; e desaparecimento de espécies e habitats naturais.
A agricultura tem sido prejudicada pelo impacto da contínua intensificação industrial e urbana. Estes efeitos já se notam em muitas regiões, através da contaminação de alimentos por metais pesados.
O desenvolvimento dos combustíveis fósseis deu à humanidade a ilusória sensação de que o crescimento econômico era ilimitado. Até agora nossa sociedade tem trabalhado segundo este modelo, o que nos colocou, atualmente, face a face com os limites de exaustão do sistema vital planetário.
Na agricultura o ponto nevrálgico é o uso do nitrogênio. Ele é um dos mais importantes insumos usado nos modernos sistemas de produção agrícola. Mas, também é nosso "calcanhar de Aquiles". Seu uso tem causado a contaminação do ar e da água, além de sua produção e distribuição dependerem das reservas não renováveis de combustíveis fósseis.
Desenvolvimento sustentado implica num redirecionamento do progresso tecnológico, precisamos obter mais bens e serviços por unidade de recursos utilizada. Assim seremos mais eficientes, não estaremos sacrificando os recursos naturais, e se necessário sacrificaremos capital produtivo e trabalho.
Precisamos encontrar níveis de produção nos quais o fator produtivo utilizado, seja eficientemente empregado. Quando analisamos a utilização de um fator de produção e sua influência na produtividade agrícola, vemos que a curva que caracteriza seu uso é a dos aumentos não proporcionais. Assim ao aumentarmos a utilização do fator, resultam aumentos marginais de produção cada vez menores.
Exemplificando, os modernos métodos de produção agrícola utilizam doses de 120 kg de nitrogênio por hectare. Sabemos que para doses de até 60 kg de nitrogênio por hectare, temos resposta de aumento de produtividade para 90% do nitrogênio utilizado. Ou seja, 120 kg de N/ha aumenta a produtividade, mas não de maneira efetiva.
Vemos, portanto, que é preciso analisar a produtividade sob a óptica da sustentabilidade. Grandes produções por unidade de área não bastam, se para alcançá-las devemos empregar recursos não renováveis de modo inadequado, e métodos de produção agressivos ao meio ambiente.
A escassez e o mau uso da água-doce é uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentado e à proteção ambiental.
A saúde, o bem estar e a segurança alimentar da humanidade, além dos ecossistemas dos quais tudo isto depende, correm sérios riscos, a não ser que os recursos hídricos e os solos agrícolas sejam manejados de maneira mais apropriada.
Os ciclos de produção envolvendo matérias primas essenciais e elementos de degradação lenta deverão ser os mais fechados possíveis, a fim de permitirem sua melhor conservação, e prevenirem que substâncias tóxicas não entrem nas cadeias alimentares.
Uma forma de agricultura sustentada era o sistema utilizado no Ocidente até o fim da 2º Grande Guerra. A integração entre agricultura e produção animal permitia a utilização do estêrco para fertilizar o solo, e empregava animais como tração precisando então de pouca energia complementar.
Analisando as projeções para a 3º e 4º décadas deste século, de acordo com as taxas de crescimento populacional atuais, e o consumo per capita de bens e serviços, vemos que a tarefa de resolver os problemas ambientais será extremamente difícil.
Nenhum dos sistemas, que são sustentáveis sob condições de baixo crescimento e demanda, tem capacidade de responder às necessidades de uma população, que dobra a cada geração.
A teoria econômica diz que se o preço de um recurso for mal avaliado, certamente ele será mal utilizado. Isto é verdade e acaba impondo um grande custo ambiental.
Vemos então que a sociedade sustentável necessita de uma teoria econômica que leve em conta os aspectos ambientais. Não podemos continuar utilizando bens e serviços ambientais, sem atribuir-lhes o devido valor, incluindo sua depreciação.
Apesar de todos parecerem concordar que o problema ambiental é político, social e econômico, nos esquecemos disto, e tentamos resolvê-lo apenas tecnicamente. Precisamos modificar esta postura, pois só resta a coexistência com a natureza, ou a não existência.

(*)O autor é engenheiro-agrônomo, fazendeiro e diretor de Meio Ambiente da Sociedade Rural Brasileira, SRB
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