Com tantos anos passando por redações, às vezes fico meio assim. Assim como? Sei lá, achando que está na hora de deixar esses jovens sentarem-se nas cadeiras que tenho ocupado. Pode ser reflexão de um dia não muito bom. Sempre privilegiei, acima de qualquer coisa, a boa informação. É o que continuo fazendo. Se você for um bom observador, verá que o programa Mercado Futuro, que apresento ao vivo de segunda a sexta-feira, é um programa nu. Tem lá um cenário, uma bancada com dez anos de idade, cadeiras que a qualquer momento desmancharão colocando-me e o entrevistado de bunda no chão. Água servida em ridículos copos de plástico... Para mim nada disso importa. Incomoda-me a falta de ar condicionado com essa temperatura do Senegal que faz em SP. Trabalhar engravatado sob calor não é fácil. A iluminação também é muito ruim. Mas meu trabalho é apresentar bom conteúdo para os telespectadores. Isso acredito que tenho feito. Vejo com horror os novos jornalistas trabalharem baseados nas telas do computador com notícias de agências, raramente bem apuradas. Não sou jornalista de monitor. Claro, leio tudo o que aparece neles, mas não é a base da informação que utilizo. Se faltar energia, vários canais de tevê que operam desde a bolsa sairão do ar. Pensar está fora de moda, usar telefone para falar com as fontes também. Se isso é ser moderno, incluo-me nos atrasados, nos retardados, nos dementes. Acredito na evolução da espécie, acho, contudo, que os novos jornalistas perderam a mensagem no Iphone que dizia onde embarcar para evoluir, ou entenderam errado, confudiram a palavra evoluir com involuir. Será? O fato é que devemos aplaudir os jovens que chegam, mas é impossível ovacionar o trabalho que eles estão fazendo. A ruindade é chocante, estonteante, acachapante. Não é tão difícil dar uma boa informação. É preciso suar um pouco, nada que um bom banho depois não resolva. Minha decepção transcende ao exercício da profissão jornalística. O que serão essas pessoas sem conhecer e ler, no kindle ou no papel mesmo, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Érico Veríssimo, Gay Talese e tantos outros? A construção de um bom caráter leva tempo, exige muita leitura, reflexão... Sem esses ingredientes não se molda uma pessoa, um ser humano no estrito sentido que essa palavra tem. Quero ser otimista, dêem-me motivos para isso.
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