Mercado
Chave para a implantação de práticas agrícolas sustentáveis
São Paulo, 24 de novembro de 2010    
José de Sampaio Góes (*)

Na busca de soluções que tornem a atividade agrícola sustentável, identificamos:1- A necessidade de potencializar a utilização de novos conhecimentos oriundos de práticas e tecnologias, que possibilitem a produção agrícola sem agressão ao meio ambiente. Estas práticas forçosamente devem ser economicamente viáveis no longo prazo para não comprometer sua continuidade. Basicamente elas deverão: minimizar o uso de agroquímicos e conservar o solo, a água e a biodiversidade; atendendo assim aos interesses das gerações futuras.2- A necessidade de remover as barreiras econômicas, institucionais e culturais, contrárias à implantação deste novo modelo de produção.Dentre os novos conhecimentos e práticas agrícolas, devemos destacar:Gerenciamento Integrado Consiste na aplicação de práticas de interação que precisam ser seguidas por parte dos agricultores, exigindo deles maior habilidade e destreza no desempenho de suas funções. Isto levará à utilização adequada das técnicas agrícolas, tornando-as assim menos agressivas ao meio ambiente.Adubação Com relação à adubação, as aplicações de fertilizantes, tanto orgânicos, como sintéticos, precisam ser cuidadosamente estabelecidas de acordo com as necessidades da cultura, época do ano apropriada e características do solo. Para reduzir o uso de fertilizantes sintéticos com eficiência, os agricultores devem monitorar regularmente, por meio de testes, as necessidades nutricionais de suas culturas, aplicando apenas as quantidades necessárias, nos momentos convenientes. Outros fatores também precisam ser considerados, como temperatura, umidade do solo, e danos causados por insetos e doenças.Irrigação A irrigação causará o menor impacto ambiental possível se fizermos uso de sistemas que forneçam apenas a quantidade precisa de água; adaptada a uma drenagem apropriada, para prevenir os efeitos de erosão e salinização.Controle de erosão O uso de coberturas mortas, juntamente com as práticas preventivas, como o plantio em curvas de nível, é de suma importância no combate à erosão. As operações mecanizadas devem ser reduzidas ao mínimo, utilizando tratores e implementos agrícolas especialmente desenvolvidos para conservar a cobertura do solo. Além disso, assim como no manejo da água, devem-se combinar técnicas de cultivo que respeitem a estrutura e estabilidade do solo. As soluções para o controle de erosão agrícola precisam ser analisadas caso a caso, considerando-se as características locais do solo, problemas potenciais, técnicas e custos concernentes à solução desejada.Manejo integrado de pragas Estratégias alternativas no manejo integrado de pragas têm avançado bastante ultimamente, mas ainda configuram-se em um grande desafio para a agricultura sustentável. A agricultura intensiva caracteriza-se pelos altos níveis de pesticidas sintéticos que utiliza, que são frequentemente aplicados como medida preventiva e sempre considerando as piores hipóteses, dando pouca atenção à infestação inicial. Este procedimento, em muitos casos, compromete os suprimentos de água, a fertilidade do solo e a saúde humana e animal; além de ser bastante dispendioso aos agricultores. O uso contínuo de elevados níveis de pesticidas sintéticos leva ao aparecimento de espécies resistentes aos defensivos químicos. As formas de agricultura que pretendem alcançar a sustentabilidade trabalham envolvendo todo o sistema de produção no controle de pragas e doenças. Os sistemas integrados envolvem: variações de culturas (intercalares e rotação), fertilização, práticas de preparo do solo, monitoramento de pragas, uso de variedades resistentes, uso de controle biológico (particularmente: insetos benéficos, ferormônios, macho esterilidade, etc.) e quando necessário, aplicações precisas de pesticidas menos ativos biologicamente. Estas estratégias reduzem as oportunidades de desequilíbrios biológicos e minimizam os impactos ambientais.Uma outra técnica é a manutenção de ervas daninhas sob controle ou o plantio de "culturas armadilha" para desviar os insetos da cultura principal, permitindo assim o controle de perdas por infestação de pragas. Existem grandes expectativas, que a biotecnologia forneça soluções valiosas a serem utilizadas pela agricultura sustentável. Para que isto ocorra, rapidamente, os governos devem intervir estimulando as pesquisas nesta área.Informação como insumo O desenvolvimento e a disseminação de novas práticas e tecnologias entre os agricultores são a chave para o sucesso na implantação das práticas agrícolas sustentáveis. Torna-se cada vez mais claro, que a agricultura sustentável não significa um retorno às antigas práticas, mas a incorporação de experiências de campo, dados ecológicos, avanços tecnológicos e uso de novos equipamentos na produção agrícola. O proprietário rural, deste novo modelo de produção, precisa transformar-se num administrador "high-tech” capaz de trabalhar com a complexa inter-relação tecnologia x meio ambiente, para conseguir níveis aceitáveis de produção e lucro, minimizando, ao mesmo tempo, os impactos ecológicos indesejáveis. Urge, redirecionar o treinamento profissional e estreitar as relações entre as instituições de pesquisa, os serviços de extensão rural e os agricultores, para possibilitar uma eficiente troca de informação entre eles.Gerenciamento de paisagens Esta é uma área de ativas discussões, onde as opiniões diferem de acordo com as prioridades e perspectivas de cada nação. A sociedade, como um todo, precisa desenvolver o conceito de "valores ambientais" para os diferentes usos do solo. Os agricultores deverão receber pagamentos diretos para manter parte de suas propriedades empregadas em outros usos, que não a produção de alimentos, energia e fibras.Barreiras a serem superadas A maior barreira à adoção de técnicas e práticas agrícolas sustentáveis é a existência de objetivos conflitantes, entre os programas e políticas agrícolas adotados. Isto agrava a complexidade das mudanças nos atuais modelos de produção. Hoje as informações que chegam aos produtores sobre a preferência do público, dizem respeito apenas ao preço de mercado, mas desconsideram os custos sociais dos recursos naturais.Não existe valor de mercado para: manutenção das paisagens, conservação de solo, da água, da biodiversidade ou para manutenção das tradições. Os fazendeiros não recebem nada pelo controle ou prevenção de danos ambientais. Por esta razão, os preços agrícolas não refletem os impactos que a agricultura causa ao meio ambiente. Os governos precisam estar atentos a estes aspectos e procurar soluções a nível nacional e internacional.Concluindo, a agricultura deve ser vista como uma fornecedora de bens (alimentos, energia e fibras), serviços ambientais (ar puro, água limpa), e também de valores públicos, como a preservação ecológica.As políticas agrícolas precisam reconhecer estas atribuições. É preciso adaptar o mercado consumidor para a colocação dos produtos da agricultura ambiental, que se preocupa em proteger os interesses das futuras gerações, manter a integridade ecológica, melhorar a qualidade de vida e cuidar da manutenção das paisagens. Só assim trilharemos a estrada que nos conduzirá, ao desenvolvimento equilibrado que tanto almejamos.

(*) José de Sampaio Góes é engenheiro-agrônomo, produtor rural e diretor de Meio-Ambiente da Sociedade Rural Brasileira, SRB.

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