Mercado
Rumores de squeeze em NY, é possível?
São Paulo, 21 de junho de 2010    
Rodrigo Corrêa da Costa (*)

O humor melhorou nos mercados ajudado, entre outras coisas, pela decisão européia de divulgar os resultados dos testes de estresse feito com os principais bancos europeus.
Com o investidor mais calmo, o dólar americano desvalorizou e deu uma força para que as ações e as commodities subissem durante a semana.
As bolsas americanas estão de volta para os níveis que encerraram 2009, bem diferente das européias e dos principais índices de commodities. Mas por outro lado o mercado de café em Nova Iorque encerrou o pregão de sexta-feira no maior nível desde 6 de março de 2008 (em dólares). Se considerarmos o contrato “C” em euros, o preço está no maior nível desde 17 de dezembro de 1999, porém em reais ainda não conseguiu romper os R$ 292 centavos por libra que atingiu quando a moeda brasileira passava por turbulências no final de 2008 e começo de 2009.
A alta nos preços do arábica assusta pela velocidade e magnitude, e faz com que aqueles que estão vendidos tenham que redobrar o cuidado em gerenciar seu fluxo de caixa para não sofrerem um aperto caso o movimento ganhe proporções ainda maiores.
Em 7 sessões o mercado já subiu US$ 35.31 por saca em NY, e US$ 26.40 em São Paulo. Isto em pleno o começo da safra brasileira, que diz-se ser a maior da história, e durante o sazonal de baixa.
Fundos, que normalmente ficam vendidos a partir de maio, estão agora comprados em torno de 20 mil contratos, revertendo suas posições levemente vendidas (2 mil lotes) em apenas uma semana. Isto tudo sem ter geada no “cinturão do café”, agora imagine se houvessem perdas de qualquer sorte na produção...
Traders se espantam não pela alta em si, mas pelo momento na qual ela está acontecendo. Entretanto aqueles que estão vendidos em diferenciais, agradecem o alargamento do “basis”, e finalmente no mercado brasileiro consegue-se fazer o “back to back” (comprar do produtor e vender para os importadores) com margens positivas, algo que acontece poucas vezes no café, e que normalmente dura pouco.
Os diferenciais para os cafés lavados, ou suaves, não enfraqueceram tanto para o embarque-imediato, dado que há pouca disponibilidade do produto nos principais países e regiões produtoras, como Colômbia e América Central, porém para os embarques de safra-nova (que começa a partir de outubro) o tombo foi de US$ 20 centavos para Guatemala, por exemplo.
O rallye no mercado, trouxe junto rumores de que um ou dois grandes fundos ligados a trading-houses estariam preparando um “squeeze” no mercado, porém as regras do contrato “C” dificultam que isto aconteça, e o spread julho/setembro demonstra isto, pois negocia a US$ 1.50 centavos de desconto, depois de ter ido a US$ 1.50 de prêmio nas últimas sessões. O motivo da dificuldade de “squeezar” Nova Iorque? A bolsa (ICE) não deixa que nenhum participante tenha uma posição maior do que 500 contratos durante o período de notificação, a não ser que o participante tenha recebido uma autorização para isto (exemption). Caso alguém tenha sido autorizado a ter um número maior do que o mínimo estipulado nas regras do contrato, mesmo assim há restrições. A bolsa historicamente sempre forçou com que o sujeito que recebeu um volume maior, reentregasse sua posição, voltando a ficar com os 500 lotes apenas caso o spread ficasse invertido (o mês de entrega mais alto do que o mês seguinte), portanto para que um “squeeze” venha a acontecer é necessário que 16 participantes combinem entre si de fazer isto, algo bastante improvável.
A pergunta que fica é: qual a direção que o mercado tomará a partir do fechamento de sexta-feira?
Os fundos potencialmente podem comprar outros 15 ou 20 mil contratos mesmo que o open interest (número de contratos em aberto) não aumente, e caso façam isto, há sempre o risco de provocarem cobertura de posição de quem não consegue pagar margem. Por outro lado, se os fundos resolverem devolver, vamos supor, metade da posição nova que compraram, eles não encontrarão liquidez o suficiente para que a queda seja suave, e podemos ver perdas de 10 a 15 centavos de dólar por libra.
Ou seja, o mercado não está para peixe pequeno, portanto toda a cautela é necessária.
Os produtores brasileiros, que têm café para vender, custam a crer que estarão conseguindo vender seu produto, em um ano de safra grande, à preços maiores do que a do ciclo de produção de baixa anterior. Foram reportados diversos negócios de qualidades variadas a preços superiores a R$ 300.00 por saca. Parabéns!! É isto aí, tem que aproveitar e vender mesmo, pois como mencionamos acima, poucas vezes na história isto durou muito tempo, principalmente sem o efeito de perdas climáticas.
A volatilidade alta das opções tornaram caras as proteções de baixa, e o risco de vender calls com o inverno todo pela frente dificulta ser muito agressivo em financiar a compra de puts (opções de venda) com a venda de calls (opções de compra). Porém para as opções de agosto, que vencem no dia 9 de julho (21 dias), dá para comprar uma put de US$ 150.00 cts, vender uma put de US$ 140.00 cts, financiando com a venda de um strangle de US$ 135.00 cts e US$ 190.00 cts – ou seja a venda de uma put de US$ 135.00 cts e a venda de uma call de US$ 190.00 cts. O risco é o mercado no vencimento estar acima de US$ 190.00 centavos ou abaixo de US$ 125.00 centavos.
Salvo a tentativa de fundos tirarem sangue dos vendidos, ou uma frente fria com risco de geada, não parece que o mercado conseguirá encontrar suporte para os preços nos patamares atuais.
Comentaremos o relatório do USDA (produção, estoques e consumo) na semana que vem.

(*)Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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