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Redundância nos planos agrícolas 2008-2009: mesmos objetivos em duas ações | |||
São Paulo, 24 de setembro de 2008 | |||
A recente divulgação dos planos de safra 2008-2009, mantendo a dicotomia entre “familiar” e “empresarial” em linhas gerais mostra reduzida criatividade conquanto a realidade dos agromercados se mostre em ebulição. A retórica fundamental de justificação e defesa das medidas consiste na liberação de mais recursos e na especificação de medidas específicas para conseguir com o aumento da produção buscando a redução dos preços agropecuários. Nesse sentido trata-se a crise de preços como tendo uma característica conjuntural. Desde logo não ocorreu a adoção de medidas estruturais que conformem uma perspectiva mais consistente de que a agropecuária possa chancelar o impacto da demanda que pouco tem de conjuntural, dada a raiz estrutural das altas de preços que ocorrem em função da enorme massa de pessoas que foram incorporadas aos padrões de consumo mais condizentes tanto no Brasil como nas principais nações emergentes. Não indo muito longe nessa argumentação para não perder o foco da analise dos planos de safras 2008-2009, basta citar que, desde 2005/2006, ocorreram sucessivos recordes de produção nas safras brasileiras de grãos e fibras. Notadamente na 2007-2008 em relação às anteriores (Figura 1), e nem por isso os preços tiveram tendência de queda, mas ao contrário, movimento de alta. Fica assim nítido que a questão dos preços dos alimentos com escalada de aumento no contexto mundial não será equacionada com mero aumento da oferta brasileira, uma vez que há outros elementos envolvidos. Dito isto, voltando aos planos de safras 2008-2009, uma reflexão interessante consiste em destacar as principais “palavras de ordem” que foram utilizadas na divulgação das medidas uma vez que muitas não guardam consistência com a realidade ou com o conjunto de objetivos das ações governamentais ensejadas. Desde logo, há uma evidente contradição de retórica decorrente de que a atual safra de planos para o ano agrícola 2008/2009 está lastreada na definição dessas ações governamentais como uma resposta à crise de alimentos. E a crise de alimentos sendo tratada como um problema de oferta, que seria superado com mais produção, tanto assim propugna-se que o objetivo “é elevar a produção de grãos no país e ajudar na contenção da alta dos preços mundiais” (2), e que dada essa prioridade, garante-se que “não faltarão recursos para o plantio e comercialização”(3). O primeiro questionamento consiste se recursos são suficientes? Os números apresentados para os volumes de recursos liberados face aos incrementos de custos parecem não chancelar essa garantia de que toda a demanda de crédito será satisfeita, mesmo porque os aportes de “recursos oficiais” nos últimos anos não permitem o custeio de toda a safra. Em termos globais, os planos governamentais para a safra 2008/2009 devem “contar com R$ 78 bilhões em recursos para a agricultura empresarial e familiar, incremento de R$ 8 bilhões em relação à safra passada”(4). Desse total, “R$ 65 bilhões serão repassados a médios e grandes produtores. Trata-se de um incremento de R$ 7 bilhões em relação aos R$ 58 bilhões que financiaram a safra atual de 2007/2008. Em relação à agricultura familiar, o governo injetará R$ 1 bilhão em novos recursos, garantindo uma soma de R$ 13 bilhões” (3). Em linhas gerais, no conjunto tem-se um incremento de 11,4% sendo que para a denominada “agricultura empresarial” houve aumento de 12,1% e para a ““assim chamada agricultura familiar”” de 8,3% nos valores consignados. E os aumentos de custos para a safra 2008/2009 em comparação com a safra 2007/2008? Os insumos fundamentais como adubos e diesel tiveram elevações expressivas nesse período. Por exemplo “estima-se que o preço médio dos fertilizantes, FOB fábrica, pago pelo agricultor, equivalente à vista, ICMS incluso, na Região Centro-Sul, em abril de 2008, ficou em US$574,37/t (R$970,11) contra US$336,16/t (R$683,08) em 2007, ou seja, com acréscimo de 42% em termos correntes e de 28,8% se se considerar em valores corrigidos” (5). Esses incrementos nos preços dos fertilizantes fizeram com que “os principais produtos agrícolas como algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, soja, milho e trigo, no período de janeiro a maio de 2008, apresentassem relações de troca desfavoráveis na aquisição desse insumo, quando comparado com o ano anterior” (5). Fica nítido que o aumento dos custos foram superiores aos incrementos dos recursos do “crédito oficial”, logo para uma safra projetada como maior faltarão recursos oficiais. Tanto assim que, o presidente da Comissão Nacional de Crédito Rural da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) afirma corretamente que “a liberação de R$ 65 bilhões não permite o aumento da produção agrícola, como quer o governo. Os custos de produção subiram muito no acumulado dos últimos meses”(6). Dada a pressão de custos crescentes, “principalmente pela valorização dos preços dos fertilizantes, a CNA havia pedido a liberações de R$ 110 bilhões para plantio da nova safra, dado que hoje não existe agricultura sem fertilizante e defensivo”(6). Portanto, a configuração de uma safra 2008/2009 maior que a anterior, conformando um novo recorde da produção brasileira de grãos e fibras, dada a insuficiência de recursos do “crédito oficial”, dependem cada vez mais de mecanismos privados de financiamento, como as vendas antecipadas de safra. Mas a capacidade de aumentar os financiamentos diretos entre agentes privados exige o equacionamento de outro ponto nevrálgico da agropecuária brasileira, qual seja a dívida rural acumulada cuja solução se arrasta por vários anos, ainda que sucessivas transferências de recursos para o setor produtivo tenham sido efetivadas em diversas renegociações desde a metade dos anos 1990. O Governo somente pode renegociar as parcelas da dívida que foi contraída com lastro em fundos gerenciados por agências públicas, mesmo que equivocadamente tenha sido estatizada parcela dessa dívida privada. E isso está inserido na safra de planos para o ano agrícola 2008/2009. Nesse caso, a ação realizada de “renegociação das dívidas dos produtores rurais resolve 80% do problema do endividamento do setor. O Governo estima que as regras beneficiarão 2,8 milhões de contratos, podendo atingir R$ 75 bilhões de um total de R$ 87 bilhões em dívidas” (7). Mas estimativa anterior do próprio Governo dá conta de que o montante global da dívida se mostra muito maior. O próprio Ministério da Fazenda havia divulgado que “a dívida rural total está em volta de R$ 130 bilhões, incluindo as parcelas que irão vencer em 2008”(8). As dívidas contraídas com mecanismo privados de custeio de safras não estão todas equacionadas. Nesse cenário, em que os custos de produção exacerbados tornaram insuficientes os volumes de recursos do “crédito oficial”, os mecanismos privados de venda antecipada de safra para agroindústrias processadoras e/ou tradings companies associados a vendas de insumos prazo safra parecem ser o caminho para o incremento de produção. Entretanto, a decisão das autoridades monetárias de aumentar a taxa de juros para debelar surto inflacionário acaba encarecendo o custo do dinheiro nessas transações da órbita privada, o que acaba por criar pressão adicional de custos de produção e mesmo de transação. Nesse contexto, agropecuaristas adimplentes ou inadimplentes acabam por enveredar para decisões de aumentar suas produções na luta para ampliar a perspectiva de sobrevivência na estrutura produtiva. Daí as expectativas de safras maiores para commodities cujos preços se mostrarem estimuladores. Outra questão a ser analisada na retórica envolvendo a safra de planos para o ano agrícola 2008/2009 consiste no fato de que as medidas se justificam pelo interesse da sociedade na produção de alimentos baratos e abundantes. Afinal, “o forte impacto dos preços dos alimentos sobre os índices de inflação levou o governo a reforçar os subsídios concedidos ao setor agropecuário. Mesmo sem enfrentar graves problemas estruturais, como a precariedade da logística de escoamento da produção e a disparada dos custos de produção, os planos do governo para o novo ano-safra 2008/09, iniciado oficialmente ontem, elevam o volume de recursos do crédito rural com taxas de juros parcialmente bancadas pelo Tesouro... Estima-se um custo total de R$ 2,6 bilhões para o Tesouro com essas operações de equalização” (9). Esse subsídio envolve apenas os valores relativos à equalização de juros para a safra vindoura (2008/2009), não computando os valores relativos às transferências governamentais para agentes privados inadimplentes envolvidos na parcela renegociada da dívida rural, que são cifras muito mais expressivas. De qualquer maneira, isso se justifica pelo combate à alta dos preços dos alimentos. A ação governamental visa vencer a inflação de alimentos. Tanto assim que para o Ministro da Fazenda “o Plano de Safra vai garantir que não haja desabastecimento e disparada na inflação dos alimentos” (2). Desse modo “a expectativa do governo é que a produção agrícola no próximo ano (safra 2008/2009) cresça 5% em relação à colheita deste ano”(10). Nesse sentido, para o Governo, “a aposta é que a maior oferta de alimentos possibilitará um recuo no preço e, portanto, menor pressão inflacionária. Apesar da escalada do preço do petróleo e de outras fontes de pressão sobre a inflação - como o ainda elevado níveis de consumo doméstico”(3). Interessante que sequer foi mencionado que mesmo com as últimas supersafras brasileiras (Figura 1) mencionadas na propaganda oficial, ocorreu a recente escalada de preços dos alimentos, o que revela que não existe relação causa-efeito entre produção e preços na recente crise de alimentos. Mais contraditório ainda consiste a afirmação de que “a resposta brasileira à crise mundial de alimentos não deve ser a retenção da capacidade de consumo ou produção, mas sim o incentivo à produtividade” (11). Ora, como explicar então a recente elevação de juros para frear a demanda visando controlar a inflação?. Outro axioma da safra de planos para o ano agrícola 2008/2009, consiste em que a produção da “assim chamada agricultura familiar” seria resposta para a crise. Dentre as medidas estão aquelas envolvendo “um plano de forte investimento para mecanizar a agricultura familiar, disseminar a adoção de tecnologias no campo e elevar a oferta interna de produtos básicos” (12). Com as medidas adotadas, “o choque de oferta de alimentos produzirá... queda dos preços dos alimentos a partir do próximo ano, apesar dos indicativos de que o setor de fertilizantes ainda pressionará os custos da produção agrícola: o novo plano de safra com R$ 78 bilhões que serão distribuídos entre os grandes produtores e o segmento da agricultura familiar, responsável pela produção dos principais produtos que pesam nos índices de inflação”(3). Isso representaria uma aposta decisiva nesse segmento produtivo para fazer frente à carestia urbana. Tanto assim que na “assim chamada agricultura familiar” a "palavra de ordem é dobrar a produção de cada pequena propriedade que tenha um produtor brasileiro... Chega de produzir cultura de subsistência: 'Eu tenho uma terrinha, vou plantar mandioca, vou plantar um milhozinho'. Não, é para plantar o que puder plantar, para comer e para vender” (11). Nessa estratégia, “o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) tem como meta um aumento de produção de aproximadamente 18 milhões de toneladas a cada ano” (4). Na leitura governamental isso se mostra crucial dado que a “assim chamada agricultura familiar” seria “responsável por dois terços da produção dos 150 produtos medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)”(3). Tamanha seria a relevância desse segmento que “mais de 4 milhões de famílias de agricultores, pescadores, extrativistas, comunidades quilombolas e indígenas são responsáveis por 77% das áreas produtivas e dos empregos no campo e ... 60% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros são produzidos pelos pequenos agricultores.”(13). Se a importância atinge esse patamar não haveria porque titubear em priorizar a “assim chamada agricultura familiar”. A questão que se coloca neste caso refere-se à contradição implícita nessa retórica, uma vez que sendo a “assim chamada agricultura familiar” a responsável pela parcela majoritária do abastecimento interno – e a crise sendo de preços de alimentos-, porque recebeu apenas R$ 13 bilhões dos R$ 78 bilhões liberados nos planos de safra para o ano agrícola 2008/2009?. Não seria mais lógico que a maior parcela dos recursos fosse aplicada no segmento prioritário solucionar a crise de alimentos? Mais ainda, sendo os mais relevantes para a produção de alimentos e respondendo por parcela reduzida da dívida rural – R$ 14,7 bilhões dos R$ 87,7 bilhões da dividas rurais com a União(14)- qual o sentido da não aplicação de volumes mais substanciais de recursos?. A retórica, portanto, não se sustenta nela própria, uma vez que as estatísticas que a sustentam não enfrentam o respaldo na realidade objetiva da produção brasileira. Tanto assim que essa mesma retórica abarca um viés exportador – e nada indica que existam postulações de que também aqui a “assim chamada agricultura familiar” seria majoritária-, ao realizar-se um plano de aumentar a oferta para vender para o mundo. Afinal, "nós queremos fazer uma revolução, porque quando o mundo precisar comer o Brasil tem que dizer: venha comprar, o Brasil tem para vender."(11). A crise mundial abriria enormes perspectivas, pois “o consumo de alimentos no mundo vai crescer nos próximos anos e o Brasil precisa aproveitar essa oportunidade” (4). Em função disso, “queremos aumentar a produção agrícola porque estamos convencidos que China, Índia, América Latina, África e o Brasil vão comer muito mais. Nós temos que plantar mais, porque temos sol, água. Para nós é uma oportunidade extraordinária para utilizar a capacidade de produção total que temos nesse País” (4). Essa confusão retórica entre a afirmação de que a “assim chamada agricultura familiar” responde pela produção de alimentos, ao associar às ações exportadoras, vincula a maior inserção externa ao desígnio de alimentar o mundo, sem ter em conta que quem vende no exterior consiste na “agricultura empresarial”. Tais manifestações deixam nítido um problema de diagnóstico inconsistente tanto no aspecto da representatividade da “assim chamada agricultura familiar” quanto no fato de que designações como agronegócios e familiar ainda que representem conteúdos importantes, não dá conta de conceituar de forma consistente a realidade da agricultura brasileira. As diferenciações estruturais não atendem ao explicitado nesses conteúdos, daí a necessidade de reformulação do desenho das políticas públicas. Afinal, para que duas concepções programáticas que por vezes se postulam antagônicas dentro do próprio Governo, se os planos de safra não revelam diferenciações expressivas de objetivos. Tanto assim que se propugna a mecanização da “assim chamada agricultura familiar” e um esforço de aumento da sua produtividade. Em função dessa perspectiva, “o Plano Safra Mais Alimentos, que prevê investimentos de até R$ 13 bilhões na agricultura familiar. Quase metade desses recursos (R$ 6 bilhões) servirão para financiar a compra de máquinas e equipamentos visando a ampliação de produção de comida nas pequenas propriedades” (4). A questão da produtividade mais alta se mostra crucial, pois “o governo dará mais dinheiro aos pequenos agricultores, mas exigirá que eles aceitem avanços tecnológicos. A meta é garantir nesse segmento um aumento de 18 milhões de toneladas de produção até 2010, principalmente em leite, milho, feijão, arroz, mandioca, trigo, aves, café, frutas, arroz e cebola”(3). Com esses recursos subsidiados espera-se uma mudança de atitude, pois na visão governamental “as pessoas precisam ter desejo de produzir mais do que apenas para sua subsistência” (4). Projeta-se assim a modernização agropecuária, ainda que tardia, da “assim chamada agricultura familiar”, o que em nome da eficiência do mesmo modelo tecnológico implica em torna-la agricultura empresarial. Para isso, visando aumentar a produtividade do trabalho, “com a linha de crédito de R$ 6 bilhões para aquisição de maquinário, o governo espera que os agricultores comprem até 60 mil novos tratores e 300 mil novas máquinas e implementos nos próximos dois anos”(4). Em linhas gerais, propugna-se para a “assim chamada agricultura familiar” a mesma perspectiva de futuro da denominada agricultura empresarial sem levar em conta a sua sustentabilidade econômica e, principalmente, os impactos sociais regressivos que o aprofundamento da diferenciação produtiva promoverá nesse segmento da agropecuária. Aliás, a retórica consiste na mesma aplicada nos anos 1970 na construção da modernização agropecuária da denominada agricultura empresarial. Tratava-se de romper com a “ineslaticidade da oferta” para que a produção agropecuária pudesse “passar a responder a preços”, exigindo para isso “crédito facilitado” e “preços remuneradores” (15). A safra de planos para o ano agrícola 2008/2009, mostra duas vertentes das ações governamentais com objetivos convergentes. Esqueceu-se, entretanto, de promover uma retórica transparente de que, de forma inexorável, nesse processo “o sol não nasceu para todos” dado que, se bem sucedia a intervenção governamental, parcela relevante dos atuais agentes produtivos da “assim chamada agricultura familiar” não sobreviverão na estrutura produtiva. Finalizando, há que se considerar ainda um outro elemento da retórica da safra de planos para o ano agrícola 2008/2009, que consiste na busca de recuperação de pastagens degradadas que seria uma resposta para não prosseguir no desmatamento amazônico. Afinal, “dos 851 milhões de hectares que o Brasil tem, 55 milhões estão sendo utilizados para produzir 143 milhões de toneladas. Ainda temos uma reserva de 71 milhões de hectares disponíveis sem mexer na Amazônia”(6). Isso porque “o Brasil conta com uma área de pastagem, bem utilizada ou não, em torno de 210 milhões de hectares, quatro vezes mais do que a atual área plantada no país. Isso criaria a possibilidade de elevar o plantio no país em cerca de 70 milhões de hectares apenas com áreas não utilizadas adequadamente para a agropecuária. A medida também tem o objetivo de evitar o desmatamento para a expansão agropecuária” (16). Ainda que meritório o objetivo, a magnitude das metas se mostra inconsistente com a realidade dos mercados e com a consistência de planos tipicamente conjunturais como os de safra. Afinal, mais dobrar a área brasileira de lavouras se mostra um esforço gigantesco mesmo para uma década. Isso porque o patamar de áreas de lavouras não apresentou um terço desse aumento em três décadas. Mas de qualquer maneira, “uma das principais medidas do plano é a criação de uma linha de crédito para a recuperação de áreas degradadas” ”(10). Para tanto, "O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai trazer contribuição para o novo Plano Safra, vai colocar R$ 1 bilhão para a recuperação de áreas degradadas, a juros negativos "(16). E se trata de atuar sobre as áreas de pastagens, pois “estas áreas hoje são usadas para a pecuária de corte, mas o investimento em tecnologia poderá destinar estas áreas para o cultivo de lavouras”. Estimou-se ”que entre 60 e 70 milhões de hectares poderão ser recuperados”(10). Trata-se de meta extremamente ambiciosa que pelos seu caráter estrutural não pode ser tratada como uma mera ação adicional de um plano de safras de conteúdo conjuntural, transparecendo ter sido apenas uma opção retórica. Isso porque, além de que a recuperação de pastagens degradadas implica no uso de enormes volumes de fertilizantes, aumentado a já elevada dependência externa brasileira que importa mais de 70% desse insumo(17), dados os preços internacionais da carne bovina que estimulam o incremento da produção pecuária, o circuito pecuário se ajustará à perca de espaço produtivo para as lavouras, caminhando exatamente no sentido contrário dos objetivos governamentais, qual seja irá penetrar ainda mais na floresta dada a força do “pretérito processo de acumulação primitiva” que garante substantivos ganhos patrimoniais que são superiores aos produtivos, o que acaba por impulsionar a força “do boi que come floresta” (18). NOTAS (1) Ver “IBGE espera crescimento de 9% para safra de grãos de 2008”. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1203&id_pagina=1, IBGE, Rio de Janeiro, 2008. Acessado em 08/08/2008 (2) CUCOLO, Eduardo “Plano Safra vai garantir abundância de alimentos” Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u418559.shtml. Folha Online, Brasília. 2008. Acessado em 02/07/2008. (3) Ver SALVADOR, Fabíola & ABREU, Beatriz “Plano para conter alta dos alimentos sai nesta semana”. Disponível em http://www.estadao.com.br/economia/not_eco198101,0.htm Agência Estado. São Paulo. 2008. Acessado em 30 de junho de 2008. (4) Ver RIBEIRO, Jeferson “Lula lança Plano Safra para ampliar produção da agricultura familiar”. Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL634725-9356,00.html. G1, Brasília, 2008. Acessado em 03/07/2008 (5)Ver FERREIRA, Célia Regina Roncato Penteado & VEGRO, Celso Luiz Rodrigues. Fertilizantes: escalada das cotações e novo recorde nas vendas. Disponível em http://www.iea.sp.gov.br. Análises e Indicadores do Agronegócio v.3, n.7, julho 2008. (6) Ver artigo “Recurso é insuficiente para aumentar a safra, diz CNA”. Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL608526-9356,00.html Agência Estado, São Paulo, 2008 Acessado em 03/07/2008 (7) Ver o artigo “Renegociação agrária beneficia 80% dos produtores, diz ministro da Agricultura”. Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL581614-9356,00.html .Agência Estado , São Paulo, 2008. Acessado em 28/05/2008. (8)Ver RIBEIRO, Ana Paula CMN prorroga crédito rural até divulgação de proposta de renegociação. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ ult91u368558.shtml Folha on line. Brasília. 2008. Acessado em 31/01/2008. (9) Ver ZANATTA, Mauro. Governo amplia os subsídios ao campo. Disponível em http://www.cafe.agr.br/index.php?tipo=ler&mat=16395 Valor Econômico. São Paulo. 2008. Acessado em 02/07/2008. (10) Ver artigo “Governo prevê aumento de 5% da próxima safra agrícola”. Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL631756-9356,00.html, Agência Estado, São Paulo, 2008. Acessado em 03/07/2008 (11) Ver artigo “Resposta à crise de alimentos será incentivo à produtividade”. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u418489.shtml. Agência Brasil, Brasília. 2008. Acessado em 02/07/2008. (12) Ver ZANATTA, Mauro. “Governo tenta turbinar agricultura familiar”. Disponível em http://www.agronegocio.goias.gov.br/index.php?act=cnt&opt=1,6654 Valor Econômico. São Paulo. 2008. Acessado em 02/07/2008. (13) Ver DECAT, Erich “Plano Safra traz respostas para agricultores familiares, diz ministro”. Disponível em http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/06/27/materia.2007-06-27.5012194347 /view . Agência Brasil, Brasília. 2008. Acessado em 27/06/2008 (14) Ver MÁXIMO, Wellton “Renegociação de dívida rural deve incluir perdão de excedente de planos econômicos”. Disponível em http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/03/25/ materia.2008-03-25.6255390296/view . Agência Brasil, Brasília. 2008. Acessado em 25 de Março de 2008. (15) Trata-se aqui da alusão a um texto clássico de análise da agricultura paulista, produzido nos anos 1940, que se mostra particularmente aplicável à realidade atual da “assim chamada agricultura familiar”. Veja-se PAIVA, Ruy Miller. Uma característica da agricultura em São Paulo. Agricultura em São Paulo 43(3):175-180. 1996. (Original publicado em O Estado de São Paulo de 12/03/1946). (16) Ver o artigo “BNDES investirá R$ 1 bilhão na recuperação de áreas agrícolas” Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL612325-9356,00.html Reuters, Brasília. 2008. Acessado em 03/07/2008. (17) Ver a análise sobre a problemática da dependência brasileira da importação de fertilizantes em GONÇALVES, José Sidnei; FERREIRA,Célia R.R.P.T., SOUZA, Sueli Alves Moreira. Produção nacional de fertilizantes, o processo de desconcentração regional e a maior dependência externa. IEA/SAA. Mimeo. 2008.. (18) Ver essa discussão sobre a acumulação primitiva em GONÇALVES,José S. & SOUZA, Sueli Alves Moreira. Efeito reverso: impactos da política norte-americana de biocombustíveis sobre os preços de alimentos no Brasil. Revista Informações Econômicas 38(7): 52-67, 2008. José Sidnei Gonçalves: sydy@iea.sp.gov.br Sueli Alves Moreira Souza: sueli@iea.sp.gov.br PESQUISADORES DO IEA |
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