Mercado | |||
Na contra mão do mercado(*) | |||
São Paulo, 7 de novembro de 2007 | |||
O mercado de açúcar fechou a semana na contra mão das demais commodities. Tudo parece conspirar contra o mercado. Mas, atenção: é apenas a velha lei da oferta e demanda. E não adianta chiar. Os fundos andaram comprando na semana, mas o mercado caiu em função de fixações da origem. Enquanto isso, o dólar fraco faz com que as commodities surjam como reserva de valor e a grande maioria delas sobe muitas vezes ignorando a lei da oferta e demanda. Menos o açúcar. A produção de etanol nos EUA continua maior do que o consumo e os problemas logísticos fazem com que a perspectiva de melhores preços desapareça no curto prazo. Como as refinarias recebem um crédito de 51 centavos por galão, o preço que pagam hoje é mais que um dólar por galão mais barato que a gasolina, o que não deixa de ser um incentivo para que as refinarias misturem mais etanol na gasolina. O etanol no Brasil, embora seja hoje a melhor liquidação, passa pelo problema crônico de não ter proteção adequada. Correndo o risco de soar como um disco quebrado, já se falou aqui nesse espaço da necessidade de se usar um instrumento adequado para proteção contra variações negativas de preço. Duro é encontrar. Consultamos vários provedores de produtos de balcão e muitos admitem que não existe hedge perfeito. Depende do apetite pelo risco que o comprador da proteção tiver. Existem produtos baseados no RBOB, outros baseados no etanol em Chicago, outros baseados no açúcar nº 11, outros numa cesta de produtos (etanol, milho, açúcar, etc), mas o fato é que independentemente do instrumento a ser utilizado, o risco de base (a diferença entre o valor apurado do instrumento em si e o valor do mercado físico que se pretende proteger). Não é tarefa fácil e se der certo, todos aplaudem, se der errado, o provedor é crucificado. Há de se insistir na utilização crescente do contrato de etanol na BM&F, pelo menos na falta de coisa melhor. É somente na construção de um contrato sólido que se poderá dar aos participantes do mercado um instrumento adequado que ajude a todos planejar melhor sua produção e consumo. Acreditamos que ainda existe muita fixação de açúcar a ser feita pelo Centro-Sul. Em outras palavras, as usinas talvez não estejam tão bem fixadas como se previa. Como exercício de futurologia, porém, um ponto para reflexão: se o petróleo continua subindo e o dólar caindo, é difícil pensar em açúcar abaixo dos 10 centavos de dólar por libra-peso. O custo de produção de açúcar aumenta com o dólar mais fraco e a gasolina não deve cair, pois o aumento do petróleo embora contrabalanceado com a queda do dólar tem mais potencial de alta do que o segundo de baixa. Se o petróleo cair e o dólar subir, é ruim para o contrato de NY pois cai o custo de produção em dólares, e as usinas recebem mais reais na conversão, incentivando a fixação de preços e por conseguinte pressionando NY. Se o petróleo subir e o dólar subir (se valorizar), é bom para o etanol brasileiro, pois na comparação a gasolina no Brasil fica mais cara e mais consumidores vão usar mais álcool. Se o petróleo cair e o dólar se desvalorizar é ruim para o açúcar que fica mais caro em dólar e para o etanol que passa a ter uma gasolina mais barata em reais. Se ponderarmos essas possibilidades como sendo 70%/30% de o petróleo subir e de o dólar se desvalorizar frente ao real, teremos como resultado um mercado que tem 70% de chances de ficar acima de 10 centavos de dólar por libra-peso. Como seguro morreu de velho e papel aceita tudo, convém não ficar parado se o mercado continuar tendo seus rallies e fixar quando NY estiver acima de 10 centavos. Não se esquecendo de olhar o câmbio com igual carinho. (*) Essa análise é do consultor Arnaldo Luiz Corrêa, da Archer Consulting. Esse artigo é publicado com autorização do autor. |
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