Mercado
Só se algo extraordinário ocorrer
São Paulo, 18 de fevereiro de 2017    
Por Arnaldo Luiz Corrêa (*)

O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana praticamente inalterado, com ligeira queda nos primeiros meses de negociação e ligeira alta nos meses com vencimentos mais longos. Dubai foi um não-evento no sentido de mudança na trajetória de preços. Os negócios de exportação continuam ocorrendo em câmera lenta e o marasmo até mesmo desestimula os fundos cuja posição liquidada na semana (até terça) se iguala ao volume que adicionaram na semana anterior. Quanto menor a oscilação, menor o interesse por parte dos fundos uma vez que volatilidade menor diminui rentabilidade. Enfim, um mercado muito chocho, sem vida.
Mercados assim, como dissemos aqui, estão prontos para um choque. A recomendação é se proteger seja qual for o lado em que se está no mercado. Consumidores industrias, por exemplo, podem vender puts (opções de venda) e comprar calls (opções de compra), talvez entre o preço de exercício de 17-18 centavos de dólar por libra-peso no caso da primeira e 19-20 centavos de dólar por libra-peso, no caso da segunda.
O fato é que o mercado vai precisar de uma renovação dos fundamentos para que consiga permanecer acima dos 20 centavos de dólar por libra-peso. A média de 50 dias dos fechamentos está em 19.94 centavos de dólar por libra-peso. A última vez que o mercado quebrou a média de 50 dias, no final de outubro, dez dias após assistimos a uma desvalorização de 150 pontos, chegando a 200 em 20 pregões. Sem vocação para pitonisa, é bom se prevenir.
Real se fortalecendo é um daqueles eventos impensáveis se discutido há três meses quando estava em 3.4700. O efeito na exportação FOB de açúcar foi sentido. Caímos de R$ 1.545 por tonelada quando o dólar estava 3.4700 para R$ 1.440 por tonelada agora no fechamento de sexta. Ou seja, você não vai encontrar ninguém arrependido de ter fixado em reais. Alguns economistas acham que se as reformas da previdência e trabalhista prosperarem, o dólar pode voltar a ter o algarismo 2 na frente e, nesse caso, dado ao mercado de petróleo que não decola, veremos uma pressão extraordinária de fixação de preços em NY e um mix de produção da cana mais propenso ao açúcar. O volume de fixação das usinas (veja mais detalhes a seguir) que devem se concentrar nos vencimentos maio e julho/2017 podem atrasar a pressão de preços mencionada.
Resumindo a ópera, uma mudança extraordinária nos fundamentos será necessária para mandar o mercado acima dos 21 centavos de dólar por libra-peso. No mesmo script, se o mercado continuar andando de lado, os fundos podem começar a sair de suas posições compradas (185.000 contratos) e buscarem a felicidade noutras paragens.
Normalmente os preços médios negociados na bolsa de açúcar em NY durante os meses de abril até junho são menores do que o preço médio negociado durante o mês de março. De 2000 para cá, inclusive, isso só não ocorreu no próprio ano 2000 e em 2009 e 2016. Ou seja, quero crer que março ainda podemos ver um pico de preços (nada substancial), mas depois disso, só algum movimento de extrema e importante magnitude pode mudar isso. Façam suas apostas, senhoras e senhores.
Fechamos o consumo de combustíveis em 2016, em gasolina equivalente, com uma queda de 0.71%. Foi um desempenho bastante razoável haja vista a queda de 3.5% no PIB. O consumo de hidratado caiu 18.8% em relação ao ano de 2015; enquanto anidro subiu 6.59% e gasolina subiu 3.88%.
Curiosamente, fechamos o ano de 2016 com o consumo dividido entre 45.5% de etanol e 54.5% de gasolina, exatamente o oposto de 2019 quando estávamos em 54.5% e 45.5%, respectivamente. Credite-se essa perda de mercado aos governos do Partido dos Trabalhadores. Essa quadrilha provocou perdas para o setor sucroalcooleiro em pelo menos R$ 100 bilhões, que é um valor próximo da dívida do setor.
A oitava estimativa de fixação de preços de exportação das usinas no mercado futuro de açúcar em NY, para a safra 2017/2018 mostra, de acordo com o modelo desenvolvido pela Archer Consulting, que até o final de janeiro de 2017, 12,1 milhões de toneladas já haviam sido fixadas (45.8% da exportação estimada). O preço médio apurado foi de 17.54 centavos de dólar por libra-peso. Em safras anteriores, o percentual máximo de fixação acumulada até o mês de janeiro foi de 44% em 2016/2017.
O valor médio de fixação foi de R$ 1.538.98 por tonelada FOB incluindo o prêmio de polarização e considerando as NDFs (contratos a termo de dólar com liquidação financeira). Esse valor é ligeiramente inferior às médias obtidas nos últimos dois meses em função de uma menor taxa de câmbio, uma vez que o real tem se valorizado em relação à moeda norte-americana. O preço médio acumulado é de 66,99 centavos de reais por libra-peso, sem prêmio de polarização, representando um aumento de 21.6% em relação ao preço médio da safra 2016/2017 e de 62% comparado à safra 2015/2016.

(*) Arnaldo Luiz Corrêa é CEO da Archer Consulting e esse artigo é reproduzido aqui com a sua autorização.
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