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Os fundos não vão desistir tão cedo | |||
São Paulo, 4 de setembro de 2016 | |||
Por Arnaldo Luiz Corrêa (*) O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana em 20.18 centavos de dólar por libra-peso, queda de 37 pontos (pouco mais de 8 dólares por tonelada) no vencimento outubro/2016 em relação à semana anterior. Já o vencimento março/2017 fechou a 20.82 centavos de dólar por libra-peso, uma redução de 27 pontos no mesmo período. O spread outubro/março enfraqueceu mais 10 pontos na semana, mostrando que a demanda do físico continua aquém do esperado. Há um mês que o mercado tenta realizar lucros fortemente e buscar a região dos 19.50 centavos de dólar por libra-peso, sem lograr êxito. Estamos vivendo um período de grandes oscilações no preço. Nos últimos quatro meses, por exemplo, assistimos as oscilações diárias (diferença entre a máxima e a mínima negociada no dia em relação ao fechamento do mercado no dia anterior) ultrapassarem 4.3%, em dezesseis ocasiões. Apenas no último mês isso ocorreu 5 vezes. A oscilação média em agosto foi de 61 pontos. Nesses quatro meses a oscilação diária foi mais ampla do que 61 pontos em 38 pregões, 10 pregões no último mês apenas. Toda vez que o mercado se aproxima dos 19.50 centavos de dólar por libra-peso, uma avalanche de compras aparece. Será apenas coincidência que a posição em aberto das puts (opções de venda) de preço de exercício de 19 centavos de dólar por libra-peso seja a maior com mais de 10.000 lotes? Temos razões de sobra para acreditar que, como dissemos aqui reiteradamente, a única coisa que pode mudar a trajetória do mercado de açúcar para patamares mais altos (23-24 centavos de dólar por libra-peso) é o preço do petróleo. Os fundos não-indexados continuam carregando sua pantagruélica posição comprada de 327 mil contratos e não nos parece que eles vão desistir dessa posição tão cedo, principalmente quando percebem do suporte que existe em torno dos 19-19.50 centavos de dólar por libra-peso, graças às tradings. A curva ascendente do dólar via NDF (contrato a termo de dólar para entrega futura liquidado financeiramente) estimula algumas empresas a apontarem os lápis e anteciparem suas fixações em reais por tonelada dos contratos de exportação de açúcar para a safra 2018/2019. É isso mesmo que você leu. Algumas empresas querem aproveitar os excelentes preços em reais o vencimento maio/2018. Com a possibilidade de um real estabilizado naquele vencimento futuro, segundo a estimativa de alguns conceituados economistas, o valor obtido hoje em reais por tonelada fazendo a fixação via esse instrumento financeiro só seria igualada se o mercado de açúcar em NY negociasse a 24.36 centavos de dólar por libra-peso, quase 600 pontos acima do que o maio/2018 negociava na sexta-feira. Pelo mesmo raciocínio, os preços médios em centavos de dólar por libra-peso para as safras 2017/2018 (maio, julho, outubro e março) e 2018/2019 teriam – em tese – espaço para subir 400 e 600 pontos, respectivamente, em relação aos níveis médios atuais. Corroborando com essa tese, o modelo de previsão de preços da Archer Consulting aponta que o contrato futuro de açúcar em Nova Iorque poderá chegar aos 23.44 centavos de dólar por libra-peso até o final deste ano. No mês passado, o modelo indicava que no mês de agosto o preço médio de NY ficaria em 20.07 centavos de dólar por libra-peso, ficou em 20.01. A tendência de melhores preços adiante parece estar se confirmando. No acumulado do ano, a diferença entre o preço médio estimado e o realizado é de apenas 1.60%. A dívida do setor, segundo levantamento da Archer no final de agosto, é de R$ 84,85 bilhões, sendo 34.7% dessa dívida em dólares americanos. Acabou o pesadelo. O Brasil se livrou de Dilma e do PT que deverá tomar uma surra nas eleições municipais deste ano. Estamos longe da estabilidade, no entanto. Já seria muito bom se o governo olhasse com atenção para o mercado energético onde nos inserimos. Bastariam algumas medidas que trouxessem de volta a segurança que o investidor precisa para investir na expansão do setor, que teria potencial de consumir adicionais 225 milhões de toneladas de cana para os próximos cinco anos. Transparência na formação de preço dos combustíveis faria toda a diferença. Um nome como o de Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), por exemplo, para capitanear essas mudanças tão necessárias, também. (*) Arnaldo Luiz Corrêa é CEO da Archer Consulting e esse artigo é publicado aqui com a sua autorização. |
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