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Noites frias no Brasil assustam os players do mercado | |||
São Paulo, 13 de junho de 2016 | |||
Por Rodrigo Costa (*) Uma pesquisa indicando que a maioria da população do Reino Unido defende a saída da Grã-Bretanha da União Européia pressionou as principais bolsas de valores do mundo. A notícia fez o dólar americano fortalecer, recuperando metade das perdas das cotações de sexta-feira retrasada quando, então, os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos decepcionaram. As commodities mantiveram o tom positivo levando o CRB para o mais alto patamar desde novembro de 2015, liderado pelos ganhos do café arábica, do gás natural e da prata. O café em Nova Iorque teve uma alta acentuada na quarta-feira, subindo US$ 7.45 centavos por libra, movimento provocado por notícias de frio e chuva no Brasil. No dia seguinte com prognósticos menos alarmantes sobre o risco de geada fez com que o contrato de julho caísse US$ 5.35 centavos, depois de ter negociado a US$ 145.00 centavos na mesma sessão – o intervalo no dia foi de US$ 11.45 centavos por libra. A madrugada de sexta-feira para sábado fez mínimas próximas de dois dígitos positivos em Celsius no Sul de Minas, temperaturas que se repetiram na noite anterior e caso aconteça o mesmo hoje (de domingo para segunda) podem trazer um desconto nos preços da bolsa – que na dúvida atraiu compras apostando em um eventual evento climático. A rápida cobertura de posição vendida dos fundos, assim como a virada de mão por estarem agora comprados provavelmente ao redor de 15 mil contratos, deve manter a volatilidade alta, razão que forçou a ICE a aumentar as margens iniciais do contrato “C”. Por outro lado chamo a atenção para o estrago que as chuvas já causaram a uma parcela da safra que está sendo colhida. Cafés nos terreiros, no chão e mesmo os grãos úmidos que ainda estão nas árvores das regiões que tiveram precipitações continuas por quase duas semanas diminuem o potencial de disponibilidade de café de qualidade – e talvez mais importante retiram um volume percentualmente razoável de cereja do mercado. Digo mais importante em função dos agentes terem antecipado uma provável certificação dos não-naturais brasileiros na bolsa de Nova Iorque, o que alteraria a tendência de queda dos certificados do arábica da ICE, ajudando os spreads a enfraquecer – para o alívio de todos os agentes da cadeia. Desta forma as atuais 1,312,310 milhões de sacas armazenadas nos armazéns credenciados da bolsa devem manter a trajetória de decertificação, e não parece muito difícil romper o nível de 1 milhão de sacas até o começo da colheita dos suaves. Este fator deve alterar o intervalo de negociação do arábica listado, provavelmente subindo o “piso” do mercado dos US$ 120.00 centavos para algum ponto entre US$ 125.00 e US$ 130.00 centavos, assumindo que o Real não volte a enfraquecer para patamares acima de R$ 3.50 contra o dólar americano. Quem tem venda a descoberto nos livros de cafés semi-lavados fica em uma situação desconfortável diante da incerteza que as chuvas trazem para o potencial de produção desta qualidade. Como ato contínuo pode-se passar pelo encarecimento dos diferenciais de reposição de cafés finos naturais – cuja percepção era de que existiria um volume grande até antes da semana retrasada. Dados prematuros do quanto “estragou” a safra já pipocam aqui e ali, com números oscilando entre 1 e 4 milhões de sacas. O alívio será para a indústria local brasileira que com a safra menor de conilon teria que pagar preços mais altos para originar a matéria-prima e com um quadro de maior oferta de cafés menos-nobres pode baratear sua originação. Para o mercado internacional serve o alerta do alto risco em não ter cobertura de compras em seus livros em um quadro de oferta e demanda relativamente equilibrado, onde os estoques mundiais, embora longe de estarem em níveis desconfortáveis, são insuficientes para absorver uma perda de produção brasileira (no caso de uma geada). Sem falar que os estoques no destino qualitativamente falando não é composto pelos cafés mais desejáveis. Os produtores que estavam animados com o que viam em suas árvores e terreiros se chateiam (obviamente) em perder qualidade em uma parcela de sua colheita, já que a majoração do terminal não cobrirá na mesma proporção o prêmio que ganhariam com seus melhores lotes. Em Monte Carmelo-MG o Simpósio promovido pela MonteCer mais uma vez reuniu profissionais (incluindo, acima de tudo, os produtores) que debateram de igual para igual os benefícios de estarem sempre se reciclando e compartilhando suas técnicas, tecnologia e estudos de como manter a produção rentável de café – desde plantio até a comercialização. Parabéns mais uma vez aos organizadores pelo belo evento. Uma queda do terminal no curto-prazo, com a não ocorrência da geada, deve encontrar suporte próximo de US$ 130 centavos, ou não muito mais baixo do que isto, mudando assim o intervalo de negociação para US$ 130.00 a US$ 150 centavos de agora em diante. (*)Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting. E é republicado aqui com a sua autorização. |
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