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Chuvas no Brasil assustam os baixistas | |||
São Paulo, 5 de junho de 2016 | |||
Por Rodrigo Costa (*) Um dos dados mais celebrados pelos defensores de um ajuste na taxa de juros americana sofreu uma queda súbita e provocou ajuste dos agentes em suas apostas nos mercados de risco. A criação de postos de trabalhos nos Estados Unidos em maio totalizou 36 mil vagas, muito menos do que as estimadas 160 mil, e o menor nível em seis anos. O número de abril também foi revisado para baixo, saindo de 160 mil para 123 mil postos. O Índice do Dólar (DXY) prontamente desvalorizou, caindo mais de 1.5% apenas na sexta-feira – o que significa a evaporação dos gradativos movimentos de alta desde o dia 12 de maio último. As principais bolsas de ações reagiram negativamente encerrando a semana em queda na Europa, enquanto nos Estados Unidos o Dow Jones perdeu 0.28%, o S&P subiu 0.29% e o Nasdaq apreciou 0.79%%. Os índices de commodities demonstram um descolamento da performance da moeda americana recentemente, seja em função dos investidores não estarem mudando suas perspectivas de longo-prazo de uma normalização dos juros pelo FED, ou talvez por esta classe de ativo estar tendo um desempenho melhor ou dada a maior alocação de recursos no ano para matérias-primas, em geral. O café fez três tentativas de alta na curta semana e finalmente na última conseguiu atrair os especuladores para cobrir parte de suas posições vendidas. O movimento além de técnico teve uma ajuda do clima chuvoso no Brasil e do ambiente macroeconômico que valorizou o Real. Com a colheita brasileira avançando para quase 25% as chuvas que tem caído nos cafezais e terreiros nos últimos dias, juntamente com o prognóstico de o tempo permanecer úmido na próxima semana forçou os baixistas a desmancharem suas apostas. Os produtores receosos de uma piora de qualidade e não encontrando preços “atrativos” no mercado doméstico acabam dosando as vendas e, portanto provendo pouca resistência às cotações. Outro dado importante é a queda das exportações no Brasil, cujo embarque em maio informado pela CECAFÉ é esperado para vir próximo de dois milhões de sacas, não muito distante do que foi divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior (2.17 milhões). O aumento do número de contratos em aberto, mencionado no meu último comentário, e o suporte encontrado pelo contrato de café arábica na ICE confirmou a renovação do apetite de compra dos comerciais quando Nova Iorque negocia próximo de US$ 120.00 centavos. Os fundos, por exemplo, venderam 10 mil lotes entre os dias 24 e 31 de maio e as cotações só caíram US$ 0.25 centavos por libra. A compra de futuros, entretanto não se traduz em volume similar de demanda no FOB e os diferenciais que interessam aos compradores não são exequíveis na reposição, ao menos por ora. Alguns negócios com um basis levemente melhor foram reportados, animando alguns exportadores para uma eventual mudança de tendência. Há outros fatores positivos para animar os altistas: 1) a queda dos certificados, que para o “C” está muito próximo de romper o menor nível desde Março de 2000 – isto se baixar das 1,267 milhões de sacas armazenadas no dia 31 de outubro de 2011; 2) a necessidade de comprar arábica pelos torradores brasileiros, já que a safra de conilon é menor; 3) o novo governo brasileiro; e 4) o clima: chuvas ou geada. Do lado negativo pode pesar o mercado londrino perdendo folego com a normalização das chuvas no Vietnã, uma eventual pressão de safra no Brasil caso a produção do arábica surpreenda ainda mais para cima, a sazonalidade de baixa no verão do hemisfério norte, um arrefecimento dos investidores em comprar commodities e finalmente o clima: chuvas parando e inverno com frio ameno. Como são muitas as variáveis os produtores sabendo dos seus custos e expectativas de produção devem manter a dosagem de venda que equilibre as suas contas, considerando que uma valorização do Real puxa Nova Iorque, enquanto a desvalorização empurra as cotações para baixo – o que no fim das contas não permite aos exportadores mudarem muito as suas bases de preço para encaixar negócios a preços demasiadamente superiores dos praticados nos últimos meses. (*) Rodrigo Costa escreve semanalmente para a Archer Consulting e o artigo é reproduzido aqui com a autorização do autor. |
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