O que eu gosto
A escuridão clara
São Paulo, 30 de agosto de 2015    
Para mim é escuro nessa minha nova casa, mas para os gambás não. Nem para os outros seres que habitam essa pequena área verde de mata natural. E eles se agitam nessa minha escuridão provocando ruídos que me assustam, não muito, já estou acostumando-me com esses rangeres todos. Como diria vovó Belinha, só não se acostuma com a morte. As saracuras acordaram em fazem um barulho delicioso. As pererecas, com as quais a Dra. Roberta se entende, conversam no jardim. Desde que seja no jardim, não me incomodam. Não aprecio pererecas no box do chuveiro. Parece que elas não gostam muito de água quente, ficam saltitantes e o banho transforma-se em uma aventura do tipo das que se vêem na série de filmes “Missão Impossível”. Gosto de banhos tranqüilos. O serelepe quase passou sobre o meu pé. Folgado, o bichinho, olha para mim com uma cara como se eu estivesse invadindo o espaço dele, talvez esteja mesmo, mas, definitivamente, a casa não é dele. Serelepes não moram em casas. O que encanta-me é a quantidade de insetos alados. Como eles voam, para cima, para baixo, para os lados... Nem em um dos aeroportos mais movimentados do planeta, Chicago ou Londres, sei lá, tem tanta coisa voando. Isso tudo é absolutamente delicioso. Claro, proteger-se contra os voadores que picam é fundamental, mas já sou experiente nesse tema. E assim é o anoitecer por ali. Depois que tudo fica completamente escuro, algumas vezes os vaga-lumes fazem o seu show que é apreciável pela janela da sala. E os morcegos dão razantes absolutamente incríveis no jardim. Coisa de doido. Sem dúvida, isso é melhor e mais gostoso do que via e ouvia da janela do apartamento onde eu morava no Itaim Bibi. Tomara que eu me acostume com essa vida mais sossegada.
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