O que eu gosto
Dos caminhos de Proust aos tiros de Neeson
São Paulo, 9 de maio de 2015    
Em um sábado sossegado, após o feriado de sexta-feira, sigo ao meu parque de diversões, a Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na fervilhante esquina da rua Augusta com a avenida Paulista. Adoro caminhar por ali. Essa livraria é estupenda, um dos meus passeios prediletos. Tinha um objetivo definido ao chegar lá, completar a compra dos volumes do “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, que releio após uns 40 anos. O que me motivou a encarar sete parrudos volumes foi uma dúvida: “Por que será que gostei quando li aos 20 e poucos anos? Será que entendi? O que será que entendi?” E onde estará a minha velha edição dos 70? Qual será a ex-esposa que me surrupiou tão bela e complexa obra? Penso em telefonar para reencontrar a preciosidade, desisto no segundo seguinte, já tenho encrencas suficientes para arrumar mais uma. Melhor não assoprar as cinzas moribundas, vai que o fogo das desavenças volte a acender... Pego os três volumes, afago, acaricio, cheiro aquele delicioso perfume dos livros recém adquiridos. Fica faltando apenas um que foi encomendado e já entregue. Agora a obra está completa e as traduções são especiais. Estou no final do terceiro volume, “O Caminho de Guermantes”, todos com tradução do francês por Mario Quintana. Tem também tradução do Manuel Bandeira e de outros ícones da literatura brasileira editados pela Globo. Claro, comprei outros livros também e anotei o nome de certos autores para uma futura investida. De volta para casa fiz um almoço frugal. E parti, à pé, para o cinema. “Noite sem fim”, com Liam Neeson (sempre achei que fosse Nielsen, mas o Google diz que é Neeson, pode ir lá conferir). Cinema de rua ou de calçada, sei lá, é inigualável. Esse que freqüento é mais ou menos, nem de calçada nem de shopping. Gosto do cheiro de pipoca, de comprar um chocolate, às vezes um refri e do ambiente nas salas de espera. Hoje em dia você já sabe, todos com seus smarts que mais parecem mini-televisões com aquelas luzes acesas... Desta vez comportaram-se relativamente bem. Difícil foi convencer aquelas quatro senhoras que se sentaram na fileira atrás de mim e que se comportaram como se estivessem na sala de estar de alguma delas. Antes de começar o filme fiquei sabendo que semanalmente jogam tranca, que o Bigode joga muito bem, que a Lúcia tem uma sorte incrível no jogo e que o Celso é muito chato, fica recitando regras depois que o jogo começou, enfim... Cochicharam durante o filme apesar dos meus shiiiiiiiiiii! O auge foi quando uma delas abandonou a sala devido à violência exibida na tela. Será que em um filme com Liam Neeson ela esperava ver cenas de amor? Noves fora zero, gostei do filme, muito bom mesmo, melhor que alguns filmes que esse ótimo ator tem participado ultimamente. Voltei para casa feliz, contento-me com esses programas relativamente simples. Apanhei “O Caminho de Guermantes” e continuei buscando o tempo perdido até ser chamado pelo bom e sempre presente Morfeu.
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