O que eu gosto
Luz no fim do túnel pode não ser um trem na contra-mão
São Paulo, 7 de setembro de 2014    
Conheci, durante a Agrishow 2014, alguns estudantes de jornalismo que participavam de um programa da Associação Brasileira de Agribusiness, Abag, em Ribeirão Preto, SP. Conversei mais com quatro deles, Will, Lucas, Johnatan e Paulo, hospedados no mesmo monastério Dom Luís, em Brodowski, ao lado da cidade onde se realizou o evento. Eles, os estagiários, nos acompanhavam nas entrevistas com direito a fazer perguntas, uma concessão importante que fizemos. Não sei se aprenderam muita coisa, certamente divertiram-se com algumas das nossas estórias dessa vida profissional. Os quatro tinham características diferentes e interessantes. Will mora em SP, é bolsista na cara Mackenzie, é cinegrafista. Lucas, de Piracicaba, vegetariano, sofreu durante as refeições recheadas de carne. Johnatan, de Araraquara, do qual quase não ouvi a voz, trabalha em uma tevê regional. Finalmente, Paulo, de Baurú, que nunca comeu o maravilhoso sanduíche de mesmo nome que apreciamos aqui na capital. Como o Paulo fez uma entrevista comigo sem eu saber que isso estava acontecendo e publicou no site do qual é editor, deolhonocampo.com.br, sinto-me à vontade para fazer o mesmo com ele, dar o troco. Ele já ganhou alguns prêmios de jornalismo dedicados aos estudantes, lembro-me de dois, Abag e Massey Ferguson. Seu site merece ser visitado. Procuro novos entrevistados. Há mais de 12 anos apresento o programa Mercado Futuro desde o estúdio da BVM&FBOVESPA, em São Paulo. Estou entediado com muitas lideranças que continuam as mesmas nesses anos todos. Resolvi convidar o Paulo. Aceitou. Ofereci um quarto que tenho disponível para essas necessidades. Chegou na quarta-feira e encontrou-me na bolsa. Apresentei o local. Olhos atentos, ele foi gravando no seu chip interno tudo que viu. Almoçamos no centenário restaurante Guanabara, ao lado do bonito Vale do Anhangabaú. Dividimos o grande filet à parmegiana. De lá para a Sociedade Rural Brasileira onde quis que conhecesse o pessoal da diretoria da Rural Jovem. Acho que ele curtiu as instalações, são de fato interessantes, mas acho que “não deu liga” com o pessoal. O objetivo da Rural Jovem é trabalhar com filhos de proprietários rurais e formar novos líderes. Não sei o que aconteceu lá, mas a visita foi legal. A seguir, para a minha casa. Ele radiografava tudo, avenidas, prédios, carros e as pessoas. Mostrei seu quarto, cama arrumada com direito a urso de pelúcia, meu querido Nello Cubatolli, que ganhei de um amigo triestino. Sorriu ao ver o urso e nada disse, soube semanas depois que se ele não abraçou o bichinho, coisa quase irresistível, fotografou, quem contou-me foi a sua namorada, Marina, que viu a foto. Jantamos na melhor lanchonete de SP, Joakin’s, minha opinião, acompanhados da dra. Roberta, a Bobbiezinha, shine of my life. Fartei-me com um cheese bacon, Bobbie com um cheese picanha, além da porção generosa de batatas fritas. Para minha surpresa ele atacou um strogonoff, diga-se, o feito no Joakin’s é bom. Conversamos um pouco ao voltarmos sobre o que falaríamos no programa no dia seguinte e sobre outras coisas. Mais de 23h00, para mim, hora de leitura na cama. E lá fui eu. Ele também recolheu-se. Quando bati na porta do seu quarto por volta das oito da manhã do dia seguinte, respondeu imediatamente. Sem brincos, piercings, tatuagens ou qualquer outro tipo de adorno, pelo menos não à vista, veste-se como um bom menino, sem aquelas roupas horrendas que os jovens de hoje adoram. Em casa e nos restaurantes só bebeu água, outra surpresa. Imagino, mesmo sendo filho único, que papi e mami “não deram mole” na educação. Sugeri que o banho fosse no banheiro que uso, o destinado aos hóspedes é muito pequeno. Aceitou e dispensou as minhas toalhas, trouxe a sua. Aliás, nela veio enrolado um dos simpáticos presentes desnecessários mas muito gentis que ele trouxe-me, uma garrafa de um excelente scotch. E o outro mimo, uma foto minha que não percebi quando ele fez, estava usando o chapéu dele, no carro do simpático Johnatan à caminho da Agrishow, onde ele escreveu a dedicatória que reproduzo: “Oi, Antônio. Não sou o melhor com as palavras faladas, como viu hoje. Mas me saio melhor na escrita. Gosto muito de fotos porque acho que elas guardam memórias de situações vividas. Essa foi no caminho p\o Agrishow, 01\05\2014. Muito obrigado por abrir as portas da sua casa para mim. Nunca esquecerei essa atitude. Sorrisos e palavras podem passar; as atitudes, não. Obrigado por ajudar este jovem a trilhar seu caminho, ainda no começo. Merci pour cette opportunité. 14\05\2014. Paulo Palma Beraldo (não esqueça do Eduardo).” O jornalista em questão nesse texto, que diz para não me esquecer do seu nome composto, Paulo Eduardo Palma Beraldo, é fluente em Inglês, Italiano e Francês (daí o agradecimento nessa língua magnífica). No seu café da manhã, não prestei muita atenção, mas como a preguiça impediu-me de comprar frutas, limitou-se a água e pão com manteiga. Eu comi bolo e pão fresquinho que comprei na padaria logo cedo, com queijo e manteiga, além do café especial que sempre tenho em casa. Caminhamos pelas gostosas ruas do Itaim Bibi, pegamos um táxi até a estação Trianon, do Metrô, na av. Paulista. Paulo Eduardo observava tudo e todos à sua volta. Downtown, levei-o à Casa Matilde, na Praça Antônio Prado, uma doçaria tipicamente portuguesa, onde se encontram doces com sabores inenarráveis, o melhor é prová-los. Fizemos isso após a tentativa frustrada de subirmos ao topo do prédio do antigo Banco do Estado de São Paulo, Banespa, hoje Santander. Após o café no mezzanino e os doces, desta vez foram os deliciosos pastéis de Belém, tentamos o esplendoroso edifício Martinelli. A felicidade apareceu. Subimos, eu nunca tinha estado lá, a vista é bonita, chega a ser chocante. Ele fotografava, olhava, apreciava. Hora do show, talk-show. E fomos para o estúdio. Como eu previa, uma boa entrevista, deve estar por aí em alguma rede se alguém quiser conferir. Nós, que nascemos aqui em SP, na capital, temos fama de gostar de comer, gostamos mesmo, mas não somos obesos, comemos muito bem e nos exercitamos bastante. Levei-o a um dos restaurantes que mais gosto, um que me traz as melhores lembranças da época de faculdade e muitas outras depois disso, o inigualável Itamaraty, situado em frente à escola no Largo São Francisco, de onde se pode avistar as gloriosas arcadas da Faculdade de Direito, hoje Universidade de São Paulo, USP. Ele escolheu para nós uma picanha com farofa e todos os outros acompanhamentos que vêm com esse prato. A cozinha do Itamaraty nunca me decepcionou, cumpriu seu papel novamente desta vez. Estava chegando o momento da despedida, coisa que odeio mas sei que é inevitável. Lá foi ele com a sua bagagem para o Metrô com destino à estação Barra Funda, e de lá, de ônibus para Baurú. Paulo Eduardo Palma Beraldo é talentoso. Nas outras vezes que tive o mesmo sentimento por outros jovens, não errei. Alguns deles estão brilhando por aí. E não apenas ele nessa experiência no interior de SP. Lucas, Will e Johnatan passaram-me uma energia animadora sinalizando que o jornalismo apenas passa por uma péssima fase, mas tem chance de melhorar. Tomara!
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