O que eu gosto
O canto do jacu feliz acorda todo mundo
São Paulo, 23 de fevereiro de 2014    
Domingo bem cedo acordei com a alegria do jacu empoleirado em algum galho dos anjicos comemorando a chuva do dia anterior e a chuva que caía fininha naquela manhã de descanso. Assim é o paraíso que tenho o privilégio de freqüentar. A família de jacus que mora lá também não tem do que reclamar. Comem do bom e do melhor. Na última tentativa de cultivar brócolis, eles invadiram a horta e comeram todas as flores mais tenras, não deixaram nem os caules. Gostam também de couve e outras folhosas que tentamos cultivar para termos umas verduras saudáveis por ali. É assim conviver com a natureza. Uma frustração aqui, uma alegria acolá. Quem também se sente tão em casa que parece que eu atrapalho a vida deles (talvez incomode mesmo), são os serelepes (nossos esquilos). Só está faltando baterem na porta para pedir amendoim ou nozes ou o que seja. Serelepes adoram lichias, isso já aprendemos. Vivem na mais completa paz e alegria. No último domingo fiquei feliz ouvindo o toc-toc do pica-pau em algum toco à procura do almoço, insetos, é claro. E a minha felicidade fica completa quando a linda borboleta azul vem dar-me bom dia. Como ela fica linda em um dia ensolarado! Outro habitué do pedaço é o belo pássaro chamado Alma de Gato. Devo também falar dos sabiás, sanhaços, caturritas e bem-te-vis, é claro. Uma fêmea de bem-te-vi fez um ninho em uma das colunas da garagem. Enlouquecia cada vez que alguém se aproximava do carro. E assim nesse acordo informal de não agressão vamos nos adaptando uns com os hábitos dos outros. E os nossos cachorros? Um muito doce foi o Gauguin, um dog alemão enorme, que brincava de piques comigo além de adorar caçar gambás. Muito organizado, caçava os gambás, matava e enterrava-os tendo o cuidado de deixar o rabo deles de fora para que a gente encontrasse a sua obra noturna. Outro, o especial Francisco da Silva, popularmente Chico (labrador preto), já bem velhinho (viveu mais de 15 anos à base de ração, cenouras, maçãs e verduras variadas), dormia aos meus pés. Já estava surdo, cego, mas o faro era impecável. Eu lia, Chico levanta-se, sai em velocidade de um Fórmula 1, volta com um rabo de um teiú na boca. Não se assustem, o teiú sobreviveu. E as nossas árvores e todo tipo de plantas estão cada dia mais lindas. É um refúgio magnífico, uma linda toca para coelhos tímidos. Só não compreendo muito bem o raciocínio de algumas formigas, aquelas que quando picam a gente, grudam na pele, além de doer bastante. Elas têm uma imensidão de área para farrear, folhas verdes ou secas e tudo mais. Quando eu me sento no terraço da cozinha mineira, ficam em volta de mim. Caso eu não preste atenção, atacam. Nunca as ofendi, nunca fiz nada de ruim para elas, mas não tem jeito. Sempre que sento ali, lembro-me do pai da Mafalda (personagem espetacular criada pelo argentino Quino) e sua luta inglória contra “las malditas hormigas”.
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