O que eu gosto
			Uma cidade com muitos encantos
			São Paulo, 25 de outubro de 2012
			Voltei a visitar Lisboa depois de muitos anos. Mesmo sendo os meus antepassados todos de origem espanhola, senti-me outra vez como se estivesse na minha casa. No início dos anos 70 morei dois meses em Portugal e um mês na ainda colônia, e ainda em guerra, Luanda, em Angola, belíssima cidade. Apenas um detalhe, de Luanda a Recife, capital de Pernambuco, no mapa mundi é possível traçar uma linha reta. Dá para imaginar a temperatura local. Nunca consegui entender como os portugueses que lá viviam conseguiam tomar caldo verde no almoço. Detalhe, como escrevi anteriormente. Rever Lisboa foi muito prazeroso. O primeiro passeio foi até o Rocio, grande, simpática e histórica praça lisboeta. Ali perto fica o Teatro Maria Matos, uma espécie de Municipal, está também o café “A Brasileira”, onde conservam a mesa freqüentada pelo poeta maior Fernando Pessoa. O mesmo que entre muitos versos brilhantes escreveu que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Subindo mais um pouco chega-se a Alfama dos Marinheiros, bairro boêmio, simpático, incrível, onde ouvi os mais lindos fados e chorei muito. Sim, o fado emociona-me e choro. Isso já virou piada entre os meus próximos. Mas é a mais pura verdade, gosto do fado, das letras tristes (também das alegres), gosto da maneira como cantam e o som das violas é uma viagem. Isso que narrei foi o que fiz nos anos 70, não sei se as coisas permanecem assim. Nessa volta fiquei apenas um dia na cidade e não revi todos esses locais. Fui a outros lugares. O que está igual é a avenida da Liberdade, arborizada, onde fiquei hospedado no muito confortável Tivoli. Nos anos 70 hospedaram-me em uma pensão gelada, sem calefação. Como o Tivoli tinha e tem um lobby gigantesco e quentinho, naquela época eu entrava lá para aquecer-me. Sobre a avenida da Liberdade, gosto muito desse nome, caso não me engane, começa no Rocio e termina em um parque onde está uma grande estátua do Marquês de Pombal. Voltando ao Rocio, peguei um bonde para subir aquelas ladeiras da cidade alta. O bonde era comum, mas as pessoas inacreditáveis. Um grande diretor de cinema como Frederico Fellini, se tivesse andado naquele bonde, com aquelas pessoas, teria ligado uma câmera e deixado filmar. Senti-me dentro de um filme. É inenarrável. Na paisagem aqueles sobradões com paredes azulejadas. Lindos, pena que estejam mal conservados. Depois descobrimos, eu e minha paixão, que tínhamos pegado o bonde errado. Embarcamos em outro. E a viagem no tempo continuou. Não dá para fazer tudo em uma única noite. Banhados e arrumados pegamos um táxi para o “Clube do Fado” ou coisa parecida. O vinho de ótima qualidade, tinto, porque assim como muitos portugueses gosto de comer bacalhau acompanhado de vinho tinto e bem encorpado. Isso pode ser um erro grosseiro, não entendo nada de vinho, mas é assim que gosto e foi assim que fiz e não me arrependi. Esperava ouvir um fado mais tradicional. Não chorei. Não se pode afirmar que não cantam fado, mas não cantaram fado como eu gostaria de ouvir nesse local. A praça de touros, não me lembro se o nome é Entre Rios, Entre Campos ou Campo Pequeno, é uma construção de tijolos aparentes graciosa. Passamos por ela no nosso roteiro turístico. Próximo desse local situa-se a Lisboa moderna, creio que construída após a entrada do país na Zona do Euro (esse nome cai como uma luva para essa região no atual momento dessa crise financeira). Aquilo lá está mais para zona do que para Euro, a segunda mais importante moeda mundial. Bem, fomos a vários outros locais. Visitamos um dos principais cartões postais dessa cidade, o famoso Mosteiro de São Bento à beira do rio Tejo. Aliás a ponte sobre esse rio é uma coisa descomunal. Conversando conosco, um dos porteiros do hotel comparou-a com a Golden Gate, San Francisco, CA. Não deixou por menos, referiu-se à costa portuguesa com a Côte D’Azur. Sem exagero algum, Lisboa é uma linda cidade. O Tivoli tem um restaurante na cobertura e também um bar em uma enorme sacada de onde vê-se toda a cidade baixa e o próprio Tejo. É uma vista inesquecível.
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