O que eu gosto
Pool do pai
São Paulo, 12 de maio de 2012    
Há anos o Ênio Campoi, o pai, convida-me para uma invenção sua, Pool Agrishow. O pai envolve várias empresas que participam da Agrishow. Elas bancam a ida de mais de 30 jornalistas, brasileiros, do Mercosul e até europeus, fazem as suas entrevistas para eles, distribuem seus presentes e no final tudo acaba bem. Nada é tão simples assim. Esse ano aceitei o convite. Eram quinze patrocinadoras e três dias para ouvirmos tudo que elas tinham a dizer. Senti-me como um soldado norte-americano no Afeganistão. Já não tenho mais energia para esse tipo de batalha, mas acho que comportei-me bem.
O dia começava às 5h da manhã para mim. Voltava para o meu quarto às 23h e alguma coisa. Muito frio pela manhã, um calor quase insuportável durante o dia, e um baita frio à noite. Vento, poeira, e algum barro temperavam o nosso vai-e-vem. Além de útil, é muito divertida essa aventura. Consegui apresentar dois programas ao vivo lá da fazenda, entrevistei o professor Coelho, da UFRS, coordenador do Prêmio Gerdau, e o Santiago Larroux, diretor de Marketing para a América Latina da John Deere. Foram duas ótimas entrevistas naquelas condições precárias. Tinha um excelente entrevistado para a quinta-feira, mas alguém melou essa conversa. Pior para a tevê que trabalho e para os telespectadores que foram privados de boas informações. Estava lá pronto para a luta, mas não foi possível. Os jornalistas que fizeram parte desse Pool eram, na sua maioria, muito divertidos e a viagem toda acabou proporcionando momentos de muita descontração. Inesquecível o Ángel, de Madri, cantando e dançando no nosso ônibus a Macareña, e acompanhado pelos mais de 30 jornalistas, uma festa. Grande figura também o Miguel, de Assunção. Nossos hermanos argentinos também fizeram discursos emocionantes durante as nossas idas e vindas. Foi assim que passamos o tempo. E foi bom. Conheci alguns jornalistas brasileiros também impagáveis. Não citarei nomes para não cometer injustiças. Como Ribeirão Preto fica absolutamente lotada, outra idéia brilhante do Ênio, o pai, hospeda a equipe em Brodowski, terra natal de Cândido Portinari. Alguns ficam em uma pousada, eu fiquei com outros em um seminário. Experiência espetacular. Nunca tinha dormido em uma cela, tudo muito simples, sem tevê, sem telefone, ambiente perfeito para orar ou meditar, ou os dois. Meu primeiro banho foi quase com água gelada. Não sabia que com energia solar você precisa abrir as torneiras e dar um tempo. Saí do quarto acordadíssimo. O choque de água fria foi ótimo para mim. Melhor foi ser acordado com o jornalista Rosemilton, segundo ele mesmo disse, uma amiga chama-o de Milton durante o dia e de Rose à noite, cantando cantos gregorianos. Last, but not least, na primeira manhã que acordei no seminário, fui procurar a cozinha, umas 5h15 da manhã. Sou lerdo e para estar pronto às sete tenho que acordar às cinco. Botei meu vidrinho de café solúvel embaixo do braço e lá fui por aqueles corredores compridos, teto altíssimo, todo barulhinho ecoava. Achei o refeitório, um crucifixo enorme assustou-me, vi alguém dormindo em um sofá, era o guarda. “Bom dia!”, disse. Ele levantou-se, ajudou-me a encontrar a cozinha, industrial, milhares de xícaras, talheres, panelinhas e panelonas. Adorei a vista. Acendeu o fogão para aquecermos a água. Fiz o café e tomamos juntos conversando. Nos outros dias a cena repetiu-se. Foi muito agradável. Não falarei dos fantasmas e do arrastar de móveis que ouvia-se toda noite naquele enorme prédio. Fica para um outro dia.
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